ntrodução: A deficiência da vitamina D tem sido amplamente associada a inúmeras doenças. A maior parte das associações é inferida pelos níveis de 25(OH)D no plasma sanguíneo, substância que não tem relação direta com a atividade dos seus metabólitos – tal como a 1,25(OH)D – já que segue os padrões dos hormônios esteroidais, com “feedbacks” positivos e negativos e outras interações moleculares, em vez de seguir o comportamento das vitaminas. O prolapso de órgão pélvico também foi associado aos baixos níveis séricos da vitamina D e, apesar de o mecanismo exato para esse aumento do risco não ser completamente compreendido, a influência da vitamina D na arquitetura da matriz extracelular (MEC), principal componente do aparato de suporte pélvico e responsável por suas propriedades mecânicas, é uma hipótese. Objetivos: O objetivo deste estudo foi examinar a estrutura da matriz extracelular por meio do arranjo das fibras de colágeno - proteína fibrosa mais prevalente dessa matriz -, e outros componentes estruturais da MEC e citoesqueleto da fáscia endopélvica, para observar diferentes padrões morfológicos em animais em regime dietético normal e sob suplementação de vitamina D. A quantificação do colágeno também foi avaliada. Casuística e métodos: Foram investigadas ratas Wistar adultas (8 semanas de idade com peso entre 200-220g). O grupo tratado recebeu, por gavagem, colecalciferol diluído em óleo de amendoim (na dose de 37.5mcg/Kg/dia, equivalente a 1.500Ui/Kg/dia), e o grupo controle recebeu apenas o óleo, por 18 dias consecutivos. Vinte e quatro horas após o último procedimento de gavagem, foi realizada eutanásia e procedimento cirúrgico com exérese, em bloco, do terço inferior do útero e superior da vagina, base da bexiga com porção proximal da uretra e o tecido conjuntivo adjacente. As amostras foram seccionadas em cortes espessos de 30 e 50 micrômetros e colocadas nas lâminas para avaliação microscópica com a técnica de geração de segunda harmônica (SHG), a qual não requer preparo dos tecidos. Para propósito de interpretação, as ratas foram separadas em grupos, conforme a fase do ciclo estral, alta ação estrogênica (proestro e estro) e baixa ação estrogênica (metaestro e diestro), identificadas por citologia e histologia. As técnicas de Picrosirius para análise do colágeno e marcações com anticorpos para outros componentes estruturais da MEC também foram utilizadas. Os tecidos foram analisados por Microscopia Confocal (TCS SP8 CARS da Leica), utilizando detectores F e Epi-SHG para detecção do sinal de SHG das fibras de colágeno. As imagens são representadas por projeções de intensidade máxima, correspondentes às imagens da série Z, coletadas pela varredura dos tecidos e processadas, utilizando o software Leica LAS AF e, posteriormente, o software ImageJ. Resultados: As fibras de colágeno apresentam
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padrão ondulado consistente e disposição aleatória no grupo tratado, enquanto o grupo controle assume aparência organizada e orientada, quando sob alta ação estrogênica. O sinal referente a SHG das fibras de colágeno mostrou-se significativamente mais intenso no grupo tratado, comparado ao grupo controle também, quando em um ambiente altamente estrogênico. A marcação de alfa-actina, heparam sulfato e de glicoconjugados contendo resíduos de ácido siálico e de N-acetil-glucosamina) mostraram padrões claramente diferentes entre os grupos controle e tratado. Conclusões: Os achados evidenciam diferença na apresentação morfológica da MEC dos animais sob dieta com alta dose de vitamina D, comparados àqueles com ingesta habitual da vitamina, apontando para uma provável mudança nas propriedades mecânicas do tecido e possível interação entre os caminhos metabólicos dos dois hormônios esteroidais, colecalciferol e estrogênio, ao menos no que tange à quantidade de colágeno depositada no tecido. Além do colágeno, outros componentes estruturais da MEC mostraram-se diferentes nos grupos controle e tratado. Administração oral de altas doses de vitamina D altera a organização e a composição da matriz extracellular na fáscia endopélvica, o que pode impactar nas propriedades e resiliência do tecido. Novas pesquisas são necessárias para avaliar o significado clínico do achado, mas mostramos uma relação tangível entre a exposição à vitamina D e a arquitetura das fibras de colágeno na matriz extracelular.