A leitura é uma tarefa cotidiana que requer o orquestramento de diversos processos
perceptuais-cognitivos, incluindo a movimentação ocular. Durante a leitura, os movimentos
dos olhos buscam e iniciam o processamento da informação contida no texto, e condições
como a dislexia afetam o rastreamento visual e consequentemente a compreensão textual.
Estratégias para facilitar o processo de leitura incluem manipulações na apresentação
visual do texto impresso ou digital, como por exemplo, tamanho ou tipo de fonte. No entanto,
a vasta maioria dos estudos na área negligenciam populações com dificuldades de leitura,
como disléxicos, e poucos estudos incluem movimentos dos olhos e outras váriaveis visuais
(e.g. acuidade de leitura) essenciais na compreensão da leitura. Portanto, a presente tese
teve como objetivo principal investigar os efeitos da manipulação do “layout” textual na
percepeção visual e movimentação ocular de indivíduos normo-leitores e disléxicos durante
a leitura. Dessa forma, foram desenvolvidos dois estudos. O primeiro visa investigar o efeito
do espaçamento entre linhas nas Funções Visuais de Leitura (FVL), velocidade de leitura e
acurácia. O segundo aborda o efeito do espaçamento entre letras sobre a movimentação
ocular, velocidade de leitura e compreensão leitora. Participaram voluntariamente do
primeiro estudo 18 indivíduos normo-leitores (M = 23.67 anos, DP = 8.84) e 20 disléxicos
(M = 15.05 anos, DP = 6.55), nativos do idioma Português Brasileiro (PB). No segundo
estudo participaram 40 normo – leitores adultos (idade cronológica: M = 19.75 anos, DP =
1.71), 38 normo – leitores crianças (idade cronológica M = 9.04 anos, DP = 1.95 e idade
lexical M = 9.16, DP 2.12) e 14 crianças disléxicas (idade cronológica M = 10.47 anos, DP
= 1.28 e idade lexical M = 7.43 anos DP= 0.59) nativas do idioma francês. Os resultados do
primeiro estudo evidenciam as dificuldades de leitura dos disléxicos, através da menor
velocidade de leitura e da diferença signifcativa de desempenho entre os grupos: disléxicos
apresentam Acuidade de Leitura (AL) e Tamanho Crítico de Letra (TCL) piores do que o
grupo normo-leitor. No entanto, ao contrário do que era previamente hipotetizado, a
manipulação do layout para esse caso não demonstrou influência significativa sobre ambos
os grupos, apesar de técnicas de machine learning demonstrarem comportamentos
diferentes entre os grupos para cada um dos layouts apresentados. No segundo estudo, a
manipulação do espaçamento entre letras sobre a movimentação ocular é notória tanto
para os normo-leitores quanto para o grupo disléxico. Houve diferença significativa entre os grupos para quantidade tanto de fixações quanto de sacadas. Na avaliação do
espaçamento, houve diferença significativa tanto para quantidade de fixações e sacadas
quanto para a frequência. A avaliação da movimentação ocular é apontada na literatura
como uma ferramenta poderosa para a compreensão em tempo real do processamento
cognitivo. Assim sendo, é possível correlacionar o pior desempenho da movimentação
ocular de disléxicos em relação à dificuldade de leitura: crianças disléxicas apresentaram
uma maior quantidade de fixações e sacadas do que crianças normo – leitoras e essas, por
conseguinte, do que adultos normo-leitores. Concluindo, os estudos desenvolvidos nesse
trabalho comprovam a importância do estudo do efeito da manipulação do layout sobre o
desempenho de leitura, sobretudo em indivíduos com dificuldade de aprendizagem, e
principalmente, dado o contexto sócio – cultural atual, no qual o uso de mídias tecnológicas
(e.g. tablets) tem sido amplamente disseminado e utilizado no processo educacional de
crianças.