Tendo a gestão democrática (GD) como temática, o objeto desta pesquisa foi a atuação do diretor de escolas da rede estadual de ensino dos municípios do Grande ABC paulista du-rante o movimento estudantil "Não fechem minha escola", surgido em 2015. Frente às de-núncias publicadas na mídia de autoritarismo e violência contra os estudantes que ocupa-vam as escolas em todo o Estado de São Paulo, o objetivo geral foi analisar a atuação do diretor escolar, tendo a concepção de GD como balizador dessa análise. Os objetivos espe-cíficos foram: analisar as influências das orientações da Secretaria de Estado da Educação (SEE-SP); identificar como se configura a autonomia e as relações escolares em situação de conflito; e conhecer a percepção da comunidade escolar acerca do tema “gestão demo-crática”. O referencial teórico foi construído de maneira a apresentar a reorganização esco-lar do governo de Geraldo Alckmin/PSDB, motivo central das ocupações; a cultura escolar e os elementos da cultura estudantil, com base nas contribuições de Dominique Julia e Maria L.R. Tura; e a formação do diretor escolar e os conceitos de gestão democrática da escola, a partir das reflexões de Vitor Paro, para pensar os desafios colocados por políticas neolibe-rais e governos autoritários. A metodologia adotada foi o estudo de caso múltiplo, dividido em duas etapas: a primeira, intitulada “Grupo Geral”, com entrevistas semiestruturadas com 10 diretores de escolas que vivenciaram as ocupações, enquanto a segunda consiste em um estudo de caso em uma escola, com a realização de entrevistas semiestruturadas com professores e pais que experienciaram a ocupação e grupo focal com os estudantes que participaram do movimento. O método adotado foi análise de conteúdo temático-categorial, como proposto por Isabel Carvalho Guerra. Os dados da pesquisa com os diretores do Gru-po Geral indicaram que nas escolas do Grande ABC paulista não houve um cenário de pro-fundo acirramento entre gestão escolar e alunos durante as ocupações, tampouco interfe-rência direta da SEE-SP na atuação dos diretores, via Diretorias de Ensino. Entretanto, mos-traram que a GD, para eles, se resume a um discurso esvaziado de sentido prático, revelan-do uma atuação autoritária e patrimonialista. O estudo de caso, por sua vez, evidenciou uma atuação mais democrática da diretora no que tange à construção de relações mais respeito-sas e pautadas no diálogo mesmo em situações de conflito. Concluímos que, para o conjun-to da comunidade escolar, a GD e a participação ainda são ações pouco efetivadas e que enfrentam gestões patrimonialistas, autoritarismo docente e excesso de hierarquização na escola. Além disso, considerou-se a necessidade de repensar a cultura escolar a partir da construção de um ambiente mais democrático não apenas para a prática da gestão, mas também no que tange às relações pedagógicas.