Cisteína proteases da Leishmania (Leishmania) amazonensis podem atuar na evasão e
subversão da resposta imune do hospedeiro. Neste trabalho é avaliado o potencial da
porção COOH-terminal da cisteína protease B de L. (L.) amazonensis (cyspep) na
modulação da infecção de camundongos BALB/c. Uma proteína recombinante da cyspep
(rcyspep) foi clonada, expressa e purificada usando um sistema baseado em Escherichia
coli. A rcyspep expressa como 94 aminoácidos (14 KDa) foi então purificada, aplicando uma
resina Ni-NTA e usadas em ensaios subsequentes de imunização de camundongos BALB/c.
Preparações de rcyspep isentas de contaminações por lipopolissacarídeo bacteriano foram
usadas para sensibilizar camundongos BALB/c, os quais foram desafiados com infecção por
promastigotas na pata ou nos macrófagos peritoneais in vitro. Os camundongos
sensibilizados com a proteína apresentaram lesões de pata aumentadas (2,4 ± 0,1 mm3),
quando comparados ao grupo controle (2,0 ± 0,1 mm3). A carga parasitária nas lesões de
patas e nos linfonodos poplíteos destes animais foi avaliada, indicando que as lesões dos
camundongos não sensibilizados com a rcyspep apresentaram a carga parasitária média 4,3
× menor quando comparados com os camundongos previamente sensibilizados
(22 ± 4,4 parasitos/20ng de DNA e 95 ± 24 parasitos/20ng de DNA, respectivamente). As
preparações de DNA dos linfonodos dos animais não sensibilizados apresentaram carga
parasitária 3,5× menor quando comparados com os animais do grupo previamente
sensibilizados (0,4 ± 0,12 parasitos/20ng de DNA e 1,4 ± 0,28 parasitos/20ng de DNA,
respectivamente). Nos ensaios de infecção dos macrófagos foram avaliados a porcentagem
de macrófagos infectados, o número de parasitos intracelulares por macrófago infectado e o
índice endocítico (IE) na 24ª hora de infecção. O conjunto destes resultados indicaram
tendência do aumento do perfil de infecção nos grupos de camundongos sensibilizados
comparado ao grupo não sensibilizados com rcyspep: 24 h - macrófagos infectados (56,67 ±
5,86 % e 48,33 ± 2,52 %, respectivamente), número de amastigotas por macrófagos
infectados (1,90 ± 0,19 e 1,88 ± 0,13, respectivamente); IE (107,39 ± 12,5 e 90,91 ± 7,69,
respectivamente), 48 h - macrófagos infectados (18,33 ± 1,15 % e 1,67 ± 1,15 %,
respectivamente); número de amastigotas por macrófagos infectados (1,14 ± 0,05 e
1,33 ± 0,58, respectivamente) e 72 h - macrófagos infectados (2,67 ± 1,15 % e
2,00 ± 1,00%, respectivamente); número de amastigotas por macrófagos infectados
(1,00 ±0,01 e 0,72 ± 0,25, respectivamente). O NO foi detectado nos sobrenadantes das
culturas nos três tempos analisados indicando maior nível de expressão ao longo do tempo
no grupo sensibilizado (24h = 8,10 ± 1,7 μM; 48h = 12,03 ± 4,64 μM;
72h = 23,27 ± 2,73 μM), quando comparado ao grupo não sensibilizado
(24h = 7,57 ± 0,98 μM; 48h = 14,71 ± 0,85 μM; 72h = 17,12 ± 2,56 μM). Finalmente os soros
dos camundongos foram analisados quanto a resposta imune humoral contra rcyspep por
ensaio imunoenzimático indireto, indicando uma tendência a predominância de anticorpos
IgG3 anti-rcyspep. Coletivamente, os dados aqui obtidos somam relevantes evidências da
participação da cyspep na modulação da infecção de camundongos BALB/c por L. (L.)
amazonensis.