Doenças causadas por Rickettsiales são um grande desafio para a saúde pública. Fatores como alta taxa de letalidade pode ser associado ao desconhecimento dos profissionais de saúde sobre as características das doenças, histórico do paciente e desconhecimento das zonas endêmicas. A investigação da presença de anticorpos anti-riquétsias e anti-anaplasma em cães é importante, pois, estes são hospedeiros para os estágios imaturos dos carrapatos e considerados importantes sentinelas para zoonoses. O objetivo do projeto foi determinar a presença de patógenos da ordem Rickettsiales circulantes no munícipio de Lavras/MG, por meio da RIFI em cães, considerando que não há relatos de casos animais e/ou humanos na região. Utilizou-se um banco de soros do Laboratório de Patologia do Departamento de Medicina Veterinária da Universidade Federal de Lavras (DMV/UFLA) coletados em 2010 durante campanha de vacinação anti-rábica realizada no município. Realizou-se entrevistas com proprietários, coletando informações sobre as características físicas e hábito dos animais. Foram testadas 199 amostras por meio da Reação de Imunofluorescência Indireta (RIFI) para pesquisa de anticorpos anti-R. amblyommatis, R. belli, R. parkeri, R. rickettsii e Anaplasma phagocitophilum. Foi realizada uma análise descritiva das variáveis estratificadas entre zona urbana e rural. Testadas associações entre variáveis desfecho (bactéria) com a área (urbana/rural) como variável independente por meio do teste qui-quadrado, considerando significância estatística de p<0,05. Outras co-variáveis obtidas foram testadas como variáveis independentes, e. calculadas as odds ratio com intervalo de confiança de 95%. Os cálculos foram realizados utilizando o software SPSS 20.0. No caso de coinfecção entre riquétsias, foi considerado o diagnóstico mais provável o agente com título final de pelo menos quatro vezes superior ao outro agente na RIFI. Das amostras 123(61,8%) demonstraram a presença de anticorpos anti-riquétsia. Destes, 26%(32/123) apresentaram reação para mais de uma espécie, no qual dez eram R. parkeri e uma R. rickettsii, pois apresentaram títulos quatro vezes maior. O restante (21) foi considerado como infecções homólogas, e a espécie R. rickettsii apresentou maior taxa dessas infecções 71,88%(23/32), mas mantendo título que variou de 1/64 a 1/256. Das amostras consideradas positivas, 65(52,84%) foram de cães residentes na zona urbana e 58(47,15%) na zona rural, porém sem diferença significativa (p>0,05) entre os locais. Nessa comparação, soropositivos para R. parkeri e R. belli apresentaram uma diferença significativa entre áreas (p=0,037 e p=0,017) respectivamente. Porém, para R. rickettsii e R. amblyommatis não houve diferenças entre os dois grupos. Na análise da estimativa de risco (OR), cães da área urbana apresentaram 5,16 (IC 0,13 a 0,85) vezes mais chance de soropositividade para R. parkeri e 3,39 (IC 0,27 a 0,96) vezes para R. belli se comparados aos animais da zona rural. Já quanto a A. phagocytophilum, somente dois soros (1%) foram positivos a título 1:640. Ambas as amostras eram provenientes da zona rural. Esses animais eram machos com idades de dois e seis anos. Um dos soros positivos para A. phagocytophilum, também foi reativo a R. parkeri que teve como título final (1:64). Outros soros 38/199 (19,1%), foram reativos na RIFI quando considerado 1:40, mas como seus títulos foram inferiores a 1:320 não puderam ser confirmados como A. phagocytophilum. Há indícios de circulação de bactérias da ordem Rickettsiales em Lavras/MG, com cães soropositivos para R. parkeri, R. rickettsii, R. belli, R. amblyommatis e A. phagocytophilum, nesta ordem de frequência. Determinando a região como área silenciosa para FMB e HGA e determinando a necessidade de vigilância para diagnóstico precoce em possíveis casos humanos.