A discussão acerca das especificidades da estrutura produtiva brasileira, apesar de abrangente
e necessária, mostra-se um tanto inconclusiva ao considerarmos os diagnósticos mais recentes
sobre a economia do país. Nos últimos anos, principalmente desde o primeiro governo Lula,
ao mesmo tempo que o país aparenta uma certa robustez no cenário internacional devido
principalmente a elevação das exportações de produtos primários e a conquista da almejada
credibilidade externa em 2006 , podemos identificar também crescente desnacionalização da
estrutura produtiva, que vem ocorrendo junto a sucessiva ampliação dos passivos externos da
economia brasileira, levando ao aumento da fragilidade do país a pressões, fatores
desestabilizadores e choques externos. A fim de contribuir para esse embate de diagnósticos,
o objetivo do presente trabalho consiste no estudo de um problema antigo e persistente da
economia brasileira: a vulnerabilidade externa, entendida como um fenômeno de longo prazo,
ou seja, a vulnerabilidade externa estrutural. No entanto, considerando a importância das
especificidades da estrutura produtiva brasileira, partiremos do conceito de Empresas
Transnacionais sugerido por Gonçalves (1992), fundamentado em Hymer (1972), e com isso
aprofundar a interpretação da vulnerabilidade externa da economia, considerando o papel
destas empresas nas mudanças da estrutura produtiva do país nas últimas décadas. A presente
dissertação consiste em uma análise histórico-estrutural das mudanças resultantes da
introdução crescente das Empresas Transnacionais no Brasil, desde a segunda metade do
século XX. A análise aqui proposta, apesar de integrar a economia do país às transformações
causadas pelas revoluções tecnológicas dentro de uma abordagem neoschumpeteriana,
considera que a lógica de expansão das Empresas Transnacionais, e as alterações no modo de
acumulação capitalista nas últimas décadas, colocam outro entendimento ao papel inovativo
destas empresas. Destacamos que nos anos mais recentes, a vulnerabilidade externa da
economia brasileira é de natureza histórico-estrutural, própria de um país dependente. Mais
recentemente, a partir dos anos 2000, o Brasil entrou em uma via específica, de dupla
dimensão, de vulnerabilidade externa estrutural. A via dupla ocorre porque há
redirecionamento do Investimento Estrangeiro Direto para o setor primário, em detrimento do
setor industrial da economia brasileira. Essa via envolve a dimensão produtiva (crescente
presença de empresas estrangeiras, ou desnacionalização) e comercial (crescente
reprimarização das exportações).