Objetivos: Avaliar a incidência de rejeição aguda nos pacientes pediátricos submetidos a transplante renal, os fatores de risco para este desfecho e seu impacto na sobrevida do enxerto e função renal.
Métodos: Foi realizado estudo de coorte retrospectiva, unicêntrico, incluindo os pacientes pediátricos submetidos a transplante renal entre 2011 e 2015. Os possíveis fatores de risco foram comparados entre os grupos com e sem rejeição aguda e para estimar a influência na função renal ao longo do seguimento, foram avaliados fatores de risco para perda do enxerto e a variação da taxa de filtração glomerular calculada pela fórmula de Schwartz modificada ao longo do seguimento entre os grupos com e sem rejeição aguda.
Resultados: Coorte composta por 230 pacientes, cuja sobrevida livre de rejeição aguda foi de 72,5% em 1 ano e 54,8% em 5 anos. Os fatores de risco relacionados a este desfecho foram número de incompatibilidades HLA (SHR 1,36 CI 1,14 – 1,63 p=0,001), imunossupressão de manutenção com ciclosporina, prednisona e azatioprina (SHR 2,22 CI 1,14 – 4,33 p=0,018), retardo na função do enxerto (SHR 2,49 CI 1,57 - 3,93 p<0,001), infecção por CMV (SHR 5,52 CI 2,77 – 11,0 p<0,001) e má aderência (SHR 2,28 CI 1,70 – 4,66 p<0,001). A sobrevida do enxerto censurada para óbito em 1 e 5 anos foi de 92,5% e 72,1% e constituíram fatores de risco para perda número de incompatibilidades HLA (HR 1,51 CI 1,07 – 2,13 p=0,01), idade acima de 12 anos (HR 2,66 CI 1,07 – 6,59 p=0,03) e presença de anticorpos reativos contra painel entre 1 e 50% (HR 2,67 CI 1,24 – 5,73 p=0,01). Apesar de não estar entre os fatores de risco para perda, rejeição aguda impactou negativamente sobre a função renal ao final do acompanhamento, com impacto mais desfavorável entre os eventos tardios.
Conclusão: Conclui-se então que rejeição aguda é um desfecho frequente entre estes pacientes, esteve relacionado ao número de incompatibilidades HLA, imunossupressão com ciclosporina, prednisona e azatioprina, retardo na função do enxerto, infecção por CMV e má aderência e, apesar de não se caracterizar nesta análise como fator de risco para perda, traz impacto deletério na função renal a médio prazo.