As alterações odontológicas são frequentes nos equinos e podem causar desconforto e dor crônica, afetando o bem-estar e o desempenho atlético dos cavalos. No entanto, estas condições podem não se manifestar com sinais clínicos óbvios, levando ao diagnóstico e cuidados tardios. Tal fato predispõe os equinos portadores de desordens odontológicas a desenvolverem outros distúrbios, como doenças gastrointestinais ou condições dolorosas no resto do corpo. O presente estudo teve como objetivo avaliar a influência da saúde bucal na expressão de dor e no exame por acupuntura de equinos. A dor foi avaliada através da observação da expressão facial equina (HGS, Horse Grimace Scale). Para isso, seis características faciais foram avaliadas (posição das orelhas, tensão acima da área dos olhos, aperto orbital, tensão na musculatura mastigatória, boca tensa com queixo pronunciado e narinas tensas com achatamento do perfil). Foram estudados 87 equinos adultos, de diferentes raças, machos e fêmeas, que estavam regularmente envolvidos em atividades esportivas ou de trabalho durante todo o período do estudo. A dor foi pontuada em presença física direta (in loco) pelo investigador, e ao mesmo tempo a face dos cavalos foi fotografada para análise posterior. Para os primeiros 33 animais a avaliação fotográfica foi realizada por sete examinadores que desconheciam o estudo e a condição de cada animal, sendo três treinados no uso da HGS e quatro veterinários de equinos, com experiência clínica, mas não treinados no uso da HGS. Para os 54 equinos restantes, a avaliação fotográfica foi realizada por apenas um avaliador treinado para o uso da HGS, o qual não tinha conhecimento sobre a condição dos animais. O exame de acupuntura foi realizado sempre pelo mesmo examinador. Esse foi iniciado com pressão do dedo sobre a articulação temporomandibular e regiões adjacentes, seguida de teste de sensibilidade dos pontos de acupuntura nos caminhos dos meridianos. Os animais foram avaliados antes (M0) e 15 dias após (M1) a avaliação e tratamento odontológico. Todos os 87 equinos estudados apresentavam alguma desordem odontológica e, apesar destas, todos apresentavam parâmetros de exame físico geral dentro da normalidade para a espécie e permaneciam no esporte ou atividade de trabalho durante todo o estudo. Houve concordância significativa nos escores de dor entre todos os avaliadores treinados para a utilização da HGS (presencial e fotográfico), com um forte e significativo coeficiente de correlação intraclasse (ICC = 0.86). No entanto, não houve concordância completa entre os avaliadores veterinários não treinados, e entre esses e os avaliadores que utilizaram a HGS. Após o tratamento odontológico observou-se diminuição significativa tanto no número de pontos de acupuntura reativos (11,2 ± 5,6 vs. 4 ± 2,9 pontos) quanto no escore de dor. Este passou de e 3 (0-10), para um escore mediano 1 (0-6). Além disso, observou-se redução das queixas dos proprietários em relação ao processo mastigatório e à qualidade do trabalho dos animais. Alguns pontos de acupuntura reativos em animais com alterações dentárias apresentaram redução significativa após o tratamento odontológico. Com ênfase para o Ponto do Dente (44 vs. 4), Estômago (E)-7 (31 vs. 3), Triplo Aquecedor (TA)-17 (27 vs. 4) e TA-16 (22 vs. 4), mostrando que o exame de acupuntura pode auxiliar no diagnóstico das alterações dentárias e, principalmente, auxiliar na determinação do sucesso do tratamento odontológico. Notou-se, ainda, relação positiva entre a presença de úlceras na mucosa bucal e o escore de dor, o número de pontos de acupuntura reativos e a qualidade do trabalho. A presença de ganchos e rampas influenciou a qualidade mastigatória dos animais, já a presença dos dentes de lobo não influenciou em nenhum dos parâmetros estudados. Por fim, observou-se que em M0, apesar de não apresentarem claudicação, um número significativo de equinos (n=49/87) apresentou pontos de acupuntura sensíveis indicando síndromes dolorosas descritas no diagnóstico por acupuntura e relacionadas à coluna toracolombar ou membros posteriores, o que reduziu em M1(n=16/87). Em conclusão, o tratamento odontológico resultou em redução da dor, modificando a expressão facial dos cavalos e reduzindo o número de pontos de acupuntura sensíveis a palpação ou pressão. A integração do exame pela palpação/pressão de pontos de acupuntura e a avaliação da dor utilizando a HGS, no exame de rotina dos equinos, pode ser útil na avaliação clínica geral e específica odontológica, e especialmente para o acompanhamento após o tratamento odontológico, bem como auxiliou para demonstrar a influência de alterações na cavidade oral sobre o sistema musculoesquelético.