Esta investigação foi concebida a partir do questionamento quanto à possibilidade de
contato de crianças bem pequenas e bebês com a natureza no contexto da educação
infantil. Tal problemática se revelou pouco abordada na produção acadêmica
brasileira, embora alguns estudos que se aproximam do tema tenham evidenciado
que as condições de promoção de relações entre crianças e natureza na educação
infantil pouco se efetivam (TIRIBA, 2005; FREIRE, 2008; SILVA, 2010; CASSIMIRO,
2012; TOLEDO, 2010; 2014), mas essas relações afetam, no sentido espinosano, as
crianças e podem provocar o aumento da sua potência de agir (TIRIBA, 2005;
SANTOS, 2016). A compreensão de natureza em Espinosa, enquanto uma substância
única, um indivíduo só, do qual seus corpos variam de maneiras infinitas (2017), foi
somada às discussões sobre a presença da cultura na constituição humana
(VIGOTSKI, 1991; 2000; ROGOFF, 2005; GOTTLIEB, 2013). Foram centrais para a
discussão, sobretudo, os escritos da educadora ambientalista Léa Tiriba (2005; 2010;
2018), a filosofia de Espinosa (2017), autores da Pedagogia e outros da Psicologia
Histórico-Cultural. A partir de um estudo empírico, de caráter qualitativo, buscou-se
compreender como crianças bem pequenas e bebês podem se relacionar com a
natureza na educação infantil e quais os desdobramentos dessa relação para eles.
Como objetivos específicos, foram investigados possibilidades e desafios na
promoção desse contato e indicados elementos que embasem a presença da
natureza no trabalho pedagógico desenvolvido com essa faixa etária. Os dados foram
gerados a partir de observações e registros (escritos, fotográficos e audiovisuais),
entrevistas e documentos (GRAUE; WALSH, 2003), em uma escola de educação
infantil, acompanhando grupos de crianças bem pequenas e bebês que, junto às suas
professoras, mantinham contato frequente com a natureza. Os resultados, embora
não possam ser generalizados, permitiram visualizar algumas relações que crianças
tão pequenas podem estabelecer com a natureza, contribuindo para desnaturalizar
argumentos que intensificam, em razão da sua faixa etária, o movimento de
afastamento existente na sociedade ocidental com relação à natureza. Não estando a
educação infantil apartada desse movimento, a presente pesquisa buscou
compreender como esse afastamento foi sendo constituído nesse contexto,
especialmente em se tratando de bebês e crianças bem pequenas, identificando
limitações e analisando possibilidades em termos de espaços, materiais e brinquedos,
quanto à promoção do seu contato com a natureza na proposição do trabalho
pedagógico. Foi evidenciado que o contato de crianças bem pequenas e bebês com
a natureza na educação infantil, em espaços com natureza ou por meio de materiais
e brinquedos, pode provocar, a partir das ações das crianças e das proposições das
professoras, relações afetivas, que aumentam a potência de agir das crianças, dentre
as quais foram destacadas relações concernentes à aprendizagem. E, a partir do que
a teoria e o campo demonstraram, foi possível indicar, também, o quanto essa relação,
além de importante para as crianças, é importante para a natureza.