Objetivo: Avaliar o impacto do tratamento como efeito adverso tardio na densidade mineral óssea (DMO) de um grupo de pacientes portadores de leucemia linfóide aguda (LLA) tratados segundo os protocolos do Grupo Brasileiro para Tratamento da Leucemia Linfóide Aguda na Infância - GBTLI LLA-93 e LLA-99. Métodos: Em estudo transversal com 101 pacientes, avaliou-se a DMO pela absorciometria por dupla emissão de raios X e interpretou-se conforme a faixa etária, comparando-se à população de referência. Compararam-se os valores da DMO com as características clínicas e tratamento recebido, além da composição corporal. Foram utilizados os testes qui-quadrado, exato de Fisher, razão de verossimilhança e t-Student para comparar os valores da DMO com as variáveis acima descritas, com nível de significância de 5%.
Resultados: Sessenta pacientes eram do sexo feminino, 78% da raça branca, com idade média de 17 ± 4,7 anos; 94,1% tiveram o diagnóstico de LLA comum e 8,9% apresentaram infiltração leucêmica do sistema nervoso central. A média da leucometria inicial foi de 38.305 células/mm3, sendo que 79% apresentaram valores menores que 50.000 células/mm3. Quarenta e quatro pacientes foram tratados com o protocolo GBTLI LLA-93, sendo que 54,5% foram classificados com baixo risco de recaída. No grupo do GBTLI LLA-99, 57 foram tratados, sendo 54,4% de baixo risco. Vinte pacientes (19,8%) receberam radioterapia craniana, sendo 17 com dose profilática de 18 Gy e três com dose terapêutica de 24 Gy. No diagnóstico nutricional,
22,8% apresentaram sobrepeso e 15,8% obesidade; não houve relação entre estas condições e a exposição à radioterapia e corticóides. Foi encontrado 2% de fraturas e 2% de osteonecrose. Na avaliação da DMO nos menores de 20 anos, três pacientes apresentaram baixa DMO, sendo dois de coluna lombar L1-L4 e um de corpo total. No grupo de risco para baixa DMO, definidos como z-score entre -1,1 e -1,9 (23 pacientes), 20,3% apresentaram esta classificação para DMO de coluna L1-L4 e 8,9% para corpo total. Nos maiores ou iguais a 20 anos, dez pacientes (45,5%)apresentaram osteopenia, sendo 31,8% em coluna lombar L1-L4 e 13,6% em cabeça de fêmur. O grupo de risco apresentou valores menores de DMO em relação ao grupo com DMO normal de coluna lombar L1-L4 (p=0,01) e corpo total (p=0,005). Além disso, na composição corporal apresentaram valores menores de massa magra (p=0,03). Na relação entre o grupo com osteopenia de coluna L1-L4 e DMO normal, o primeiro apresentou valores menores de DMO (p=0,000). Os pacientes com osteopenia de cabeça de fêmur apresentaram maior idade que o grupo com DMO normal (p=0,001).
Conclusão: Neste grupo de pacientes tratados de LLA infantil, a toxicidade óssea tardia foi representada por 2,9% de baixa DMO, 2% de fraturas e 2% de osteonecrose. Foi caracterizado um grupo de risco para baixa DMO, compondo 15,8% da população de estudo, com valores de DMO de corpo total e coluna lombar L1-L4 significativamente menores. Este estudo sugere que esta população de risco pode ser beneficiada através de ações para prevenção da perda óssea, estimulando o desenvolvimento de protocolo para seu acompanhamento longitudinal.