Staphylococcus aureus é um dos principais agentes patogênicos encontrados em queijos produzidos com leite cru no mundo, incluindo o queijo Minas artesanal produzido no Brasil. No entanto, informações sobre S. aureus isolados de queijos artesanais e de fontes de produção em queijarias de pequena escala são muito limitadas. Nós objetivamos caracterizar os aspectos de patogenicidade e a diversidade clonal de S. aureus isolados de queijo Minas artesanal, leite cru, soro-fermento e manipuladores da Região de Campo das Vertentes, MG, Brasil. As amostras foram identificadas usando MALDI-TOF MS e para a avaliação de produção de biofilme o Agar Vermelho Congo (AVC) e placas de poliestireno. PCR foi utilizada para detectar icaA, icaB, icaC, sea, seb, sec, sed, see, tsst-1, agr e mecA. A expressão dos genes das toxinas estafilocócicas em amostras positivas na PCR foi avaliada por qRT-PCR e a produção dessas toxinas bem como a atividade hemolítica foram avaliadas in vitro. Também avaliamos o perfil de resistência antimicrobiana das amostras. Para análises estatísticas foram utilizados cluster, teste qui-quadrado e correspondência. O estudo da diversidade clonal das amostras foi realizado pela aplicação das técnicas de spa typing, rep-PCR ((GTG)5) e MALDI-TOF MS, sendo realizada a avaliação do poder discriminatório, da tipabilidade e da concordância entre as técnicas de tipificação supramencionadas. Foram analisadas 76 amostras de Staphylococcus aureus. Na PCR, 18,42%, 18,42%, 2,63% e 77,63% das amostras foram positivos para sea, tsst-1, sec e agr, respectivamente. Os genes das toxinas estafilocócicas foram de baixa expressão na qRT-PCR e apenas duas amostras foram produtoras de TSST. A maior parte das amostras (61,84%) apresentou atividade hemolítica e foram formadoras de biofilme em CRA (69,73%) e em placas de poliestireno (81,58%). Nenhuma das amostras possuia mecA nem apresentou padrão de multirresistência, sendo as maiores resistências observadas para Penicilina G (67,11%) e Tetraciclina (27,63%). O genótipo de maior frequência no estudo foi o t605 (27%), seguido pelos tipos t002 (10,8%) e t521 (9,5%). Spa typing e (GTG)5 apresentaram alto poder discriminatório, em contrapartida ao MALDI-TOF MS que apresentou baixo poder discriminatório e baixa concordância com as técnicas genômicas de tipificação. Em conclusão, as amostras apresentaram
11
potencial toxigênico, com maior prevalência de sea e tsst-1. Nós constatamos que a produção de biofilme foi o principal fator de patogenicidade das amostras. Foram formados seis clusters cujas frequências de distribuição diferiram para atividade hemolítica, formação de biofilme (análises qualitativa e quantitativa) e resistência à Penicilina, Tetracilina e Eritromicina (P<0,05). As amostras de Staphylococcus aureus apresentaram alta diversidade genética, e há indícios de que a presença desse micro-organismo no produto final seja fruto da contaminação cruzada do leite cru, do soro-fermento (pingo) e dos manipuladores assintomáticos desse agente bacteriano. Nossos achados enfatizam a necessidade de medidas efetivas que previnam a intoxicação alimentar estafilocócica, limitando o crescimento de S. aureus e a formação de enterotoxinas, bem como reforçam a importância da implementação das boas práticas de fabricação para reduzir o risco de transmissão de bactérias potencialmente patogênicas ao longo da cadeia de produção do queijo Minas artesanal.