Introdução: a Reforma Psiquiátrica brasileira representa processo iniciado por ação conjunta dos profissionais, usuários e familiares, objetivando mudança do modelo assistencial. Tal movimento fez com que o Estado brasileiro implantasse políticas públicas que modificassem a realidade da assistência de Saúde Mental oferecida no País. Este processo contemplou também recomendações para o aperfeiçoamento da formação dos profissionais atuantes na área com finalidade de superar o modelo manicomial hegemônico e sustentar a prática transformadora da assistência. Observa-se ainda que parte dos cursos de Enfermagem não se adequou às propostas da Reforma, de maneira que mantém em suas disciplinas/unidades curriculares enfoque no ensino dos transtornos mentais, aproximando-se do modelo da Psiquiatria tradicional. Objetivo: analisar a formação dos enfermeiros oriundos de instituições de ensino públicas e privadas, da cidade de São Paulo, na perspectiva da Reforma Psiquiátrica brasileira. Método: trata-se de pesquisa qualitativa, descritiva-exploratória, com uso do referencial metodológico da análise documental e análise de conteúdo. Participaram deste estudo docentes responsáveis pelas disciplinas de Saúde Mental das Instituições de Ensino Superior (IES) da cidade de São Paulo. Os dados foram coletados por meio da análise dos projetos político-pedagógicos (PPP) que norteiam os cursos de graduação em Enfermagem e pela realização de entrevistas com os docentes, seguindo roteiro composto por questões norteadoras do tema. Resultados: do total das 25 IES passíveis de participarem da pesquisa, onze concederam autorização, contudo nove delas participaram efetivamente. A partir da análise dos PPP e das entrevistas, foram criadas três categorias que tratam do histórico profissional do docente responsável pela unidade curricular de Saúde Mental, do ensino da disciplina de Saúde Mental nos cursos e da inserção desta na grade curricular. Percebeu-se que parte dos docentes não escolheu trabalhar na área de Saúde Mental de forma espontânea, também, alguns deles não tinham experiência assistencial prévia à docência. No que tange à disciplina de Saúde Mental, observou-se que estas apresentaram carga horária insuficiente; conteúdos teóricos com cerne no estudo das psicopatologias; bloco prático com carga horária insuficiente e, em algumas escolas, o estágio não é realizado em serviços de Saúde; não há inter-relação com as demais disciplinas que compõem a matriz curricular, de modo que a transversalidade não é adotada pela maioria das escolas; o ensino da Reforma Psiquiátrica e das políticas de Saúde Mental com carga horária insatisfatória, sendo circunscrito a poucas horas/aulas. Pelas questões norteadoras, foram identificados: o perfil do enfermeiro para atuar na Saúde Mental, o número de alunos que ingressaram na área, problemas na rede de atenção, como número insuficiente de serviços, carência na articulação entre eles, falta de recursos humanos e materiais, infraestrutura inadequada. Considerações: constatou-se que as instituições de ensino estudadas não conseguem ofertar formação na graduação em Enfermagem na perspectiva da Reforma Psiquiátrica brasileira e das políticas de Saúde Mental. Tal condição decorre da carga horária muito reduzida da disciplina específica de Saúde Mental, da ausência de articulação entre as demais disciplinas da matriz curricular, da quantidade inadequada de serviços substitutivos para a realização das atividades práticas, da ênfase dada ao ensino das psicopatologias e da carência de qualificação dos docentes.