Introdução: O tratamento de pacientes com resistência antirretroviral, envolvendo a
associação de medicamentos potentes e com alta barreira genética é bastante eficaz.
No entanto, terapias de resgate foram pouco estudados no atendimento clínico de
rotina, fora das condições de um estudo randomizado, especialmente, em países de
baixa e média renda. Neste estudo, avaliamos os fatores associados à não resposta
virológica, em pacientes com resistência antirretroviral após terapia de resgate.
Objetivo: O objetivo primário foi analisar a taxa de não resposta ao tratamento
antirretroviral, em pacientes multiexperimentados a antirretrovirais, recebendo
esquema de resgate. Foram avaliados fatores associados à não resposta virológica,
comparando com respondedores ao esquema de resgate. Metodologia: Análise
transversal retrospectiva de prontuários de pacientes multiexperimentados, em
tratamento de resgate antirretroviral em um ambulatório de infectologia na cidade de
São Paulo, Brasil. Foram considerados respondedores ao tratamento de resgate
aqueles pacientes que obtiveram carga viral indetectável em até 24 semanas após
introdução do esquema de resgate antirretroviral. A análise de resistência foi baseada
em teste de genotipagem. Aqueles que, após 24 semanas de adesão, não
apresentaram carga viral indetectável foram considerados não respondedores. Os
fatores analisados quanto a não resposta foram: sexo, idade, carga viral e CD4 no
início do tratamento de regate, tempo de negativação da carga viral entre os
respondedores, comorbidades associadas, infecções oportunistas prévias, histórico
antirretroviral, número de medicamentos ativos no esquema e uso de novas classes.
Análise estatística: Os dados foram inseridos no programa Excel e analisados no
programa estatístico STATA versão 13.0 (StataCorp LP, CollegeStation, Texas, USA).
Resultados: Neste estudo foram analisados 140 pacientes multiexperimentados, no
período de julho de 2008 a março de 2016. No basal, foi observado LT CD4+ superior
a 200 células/mm3 em 52,1% dos pacientes e carga viral inferior a 100 mil cópias/mL
em 50,7%. O número médio de falhas prévias foi de 5 (1-12 falhas), com uma média
de 159 meses do diagnóstico de infecção pelo HIV. Ao resgate, aproximadamente
metade dos pacientes receberam 3 ou 4 medicamentos ativos. Cento e doze (80,0%)
utilizaram novas classes. Cento e trinta e um (93,5%) foram considerados
respondedores ao tratamento de resgate. O tempo médio para resposta foi de 6,7xv
meses. Nove pacientes continuaram com a carga viral detectável após o tratamento
de resgate (Prevalência: 6,4%; [IC 95% 3,0 - 11,9]). Na análise bivariada os fatores
associados significativamente à não resposta foram: etilismo (p=0,048), menos de 2
medicamentos ativos no resgate (p=0,007) e LT CD4+ prévio inferior a 200
células/mm3 ao resgate (p=0,017). Na análise de regressão logística múltipla foi
observado que LT CD4+ inferior a 200 células/mm3, previamente ao resgate, e a
utilização de menos de dois medicamentos ativos no resgate foi independentemente
associado à não resposta virológica. Conclusão: Pacientes multiexperimentados e
com resistência antirretroviral, submetidos à terapia de resgate apresentaram alta taxa
de resposta virológica, sendo que LT CD4+ inferior a 200 cél/ mm3 prévios ao resgate
e uso de menos de dois medicamentos ativos foram independentemente associados
com falha terapêutica.