As oftalmopatias caninas podem ser diagnosticadas por meio de exames clínicos oftalmológicos específicos e sequenciais. É possível observar algumas enfermidades com maior frequência, em determinadas áreas, principalmente, em função do clima e da genética. O objetivo deste estudo foi diagnosticar as oftalmopatias em cães, relacioná-las em função das características dos cães atendidos e, também, associá-las. Foram avaliados 101 cães domiciliados na Região Metropolitana da Baixada Santista (RMBS), atendidos no Serviço de Oftalmologia do Hospital Veterinário da Faculdade de Medicina Veterinária da Universidade Metropolitana de Santos, no período de junho a dezembro de 2018; e 140 cães domiciliados na Região Metropolitana de São Paulo (RMSP), atendidos em clínicas diversas, pelo serviço de oftalmologia veterinária volante, no período de janeiro a março de 2019. Os cães foram submetidos ao teste lacrimal de Schirmer, à biomicroscopia com lâmpada de fenda, à tonometria de rebote, à coloração, com fluoresceína, para a avaliação da integridade da superfície corneana, do tempo de ruptura do filme lacrimal e da patência do ducto nasolacrimal (DNL), além da avaliação de fundo de olho com oftalmoscopia direta e indireta. Após a avaliação da normalidade da distribuição dos resultados, as diferenças entre as médias foram analisadas com os testes One-way ANOVA, two-sample t-test, Kruskal-Wallis ou Mann-Whitney. Para a análise das frequências observadas, usou-se o teste Qui-quadrado ou o Teste Exato de Fisher. As correlações foram avaliadas pelo coeficiente de correlação de Spearman. Foram examinados 123 machos, com idade média de 6,94 anos, e 118 fêmeas, com idade média de 8,52 anos, sem diferença de distribuição entre as regiões. Destes pacientes, 212 cães pertenciam a 29 raças distintas e 29 cães não tinham raça definida. Quanto à conformação cefálica, 158 eram braquicefálicos, 77 mesocefálicos e 6 dolicocefálicos. Os cães braquicefálicos eram mais jovens que os mesocefálicos, com maior proporção de machos. Todos os pacientes apresentaram, ao menos, uma oftalmopatia. Resultados negativos no Teste de Jones foram observados em 89,14% dos olhos, com frequência mais elevada em cães braquicefálicos (98,73%). Outras oftalmopatias mais diagnosticadas foram ceratoconjuntivite seca (CCS), em 48,94% dos olhos, entrópio (29,47%), catarata (15,45%), estenose nuclear senil do cristalino (15,66%), ceratite pigmentar (14,20%) e atrofia de retina (11,81%). As afecções relacionadas aos anexos oculares, especificamente dacriocromorreia, entrópio e distiquíase acometeram pacientes mais novos, ao passo que neoformação palpebral, ceratite aguda, CCS, uveíte, catarata, estenose nuclear senil e luxação do cristalino, assim como a atrofia de retina acometeram pacientes mais idosos. Fêmeas foram mais acometidas por formas mais brandas de CCS quantitativa, enquanto machos foram mais acometidos por formas mais graves. A ceratite ulcerativa acometeu mais os machos, ao passo que a catarata e, especificamente, a catarata madura, acometeram mais as fêmeas, possivelmente, em função de sua idade mais elevada. Resultados negativos no Teste de Jones, a ceratite aguda, a ceratite pigmentar e o leucoma foram mais diagnosticados em cães braquicefálicos, enquanto a catarata madura e a atrofia de retina foram menos diagnosticadas nestes cães, possivelmente em função de sua idade mais baixa. A uveíte foi mais diagnosticada em cães mesocefálicos. Catarata e estenose nuclear senil de cristalino também foram mais diagnosticadas nestes cães, porém, possivelmente, em decorrência de sua idade mais elevada. Considerando-se as regiões metropolitanas, houve pouca diferenciação entre as oftalmopatias diagnosticadas. A ceratite ulcerativa foi mais diagnosticada na RMSP, enquanto a CCS qualitativa foi mais diagnosticada na RMBS. Ainda, houve maior frequência de casos de CCS quantitativa discreta na RMSP, enquanto, na RMBS, houve maior frequência de casos de CCS quantitativa moderada. Ocorreu pequena diminuição da quantidade e da qualidade lacrimal, bem como da pressão intraocular, nos cães, com o avançar da idade. Em função da grande quantidade de associações entre o diagnóstico de diversas oftalmopatias, ficou demonstrado que muitas afecções podem ser previsíveis, a partir de um prévio diagnóstico de outras. Levando-se em consideração os dados apresentados neste estudo, é possível concluir que existem influências etárias, sexuais e regionais no diagnóstico de oftalmopatias em cães.