O tema da minha pesquisa é o Festival de Sanremo, Festival da canção italiana, um dos principais eventos midiáticos na Itália que acontece todo ano, geralmente no mês de fevereiro. Trata-se de um evento que age como cola social em uma maneira similar com os jogos de futebol e que, como eles, cria uma narrativa interna da sociedade italiana que “vigia e pune” quem acaba ficando fora dela. Por meio de um regime escópico (PERERA, 2014), que entra dentro das casas das/os italianas/os, reproduzem-se, todo ano, as novas implicações de uma fictícia identidade italiana. Neste trabalho, tento discutir exatamente as relações entre o Festival de Sanremo e essa italianidade, e as maneiras como sujeitos periféricos passam a emergir esporadicamente no contexto da normatividade nacional do Festival. Para fazer isso, examinarei um número limitado de estudos de caso, a dizer, as participações de artistas, como Cecile, Rocco Hunt, Aleandro Baldi, Andrea Bocelli e Annalisa Minetti, entre 1992 e 2016. Examinarei um corpus heterogêneo de fontes impressas, online, textuais, sonoras e audiovisuais. Entre as várias fontes críticas usadas, consultadas e/ou enfrentadas, durante o trabalho, destaco o trabalho de Facci e Soddu (2014), Facci (2014), Fabbri e Plastino (2014), Agostini (2014), Perna (2014), Giuliani (2016), Petrovich Njegosh (2014) e Proglio (2016). A minha abordagem crítica avança o trabalho desses autores, pondo em relevo a comunicação e interpenetração entre questões de gênero, raça e “deficiência” e as maneiras como elas acabam sendo tratadas quase da mesma maneira no Festival. De que forma essas questões são silenciadas e esporadicamente ressaltadas no contexto do Festival? Quais são as trajetórias dos sujeitos envolvidos e quais aferições críticas é possível avançar em virtude dessas trajetórias? Em termos de referencial teórico, utilizarei autores como Stuart Hall (2003), Homi Bhabha (1998), Gloria Anzaldúa (1987), John Dickie (1994), Gabriella Gribaudi (1997; 2005) Joseph Pugliese (2002; 2007; 2008), entre outros. No primeiro capítulo, mantendo uma abordagem subjetiva, tentarei discutir as relações entre o Festival de Sanremo e a italianidade, através de significantes como “italiano” e “popular”. No segundo capítulo, focarei nas representações de raça e gênero, trazendo os estudos de caso de Cecile e Rocco Hunt. Enfim, no terceiro capítulo, após uma breve contextualização crítica do conceito de “deficiência”, analisarei as trajetórias de três cantores cegos, no caso Aleandro Baldi, Andrea Bocelli e Annalisa Minetti, durante quatro edições do Festival nos anos 1990.