O objetivo deste trabalho é analisar a maneira como os aspectos hidrossociais implicam no desmonte da produção agropecuária do Perímetro Irrigado de São Gonçalo (PISG) no período de 2012 a 2017, processo indicador de desarranjos socioambientais e econômicos. Com o intuito de compreendermos o objetivo em questão, adentramos os meandros da pesquisa qualitativa e quantitativa. Em termos qualitativos a corda metodológica amarra e sustenta o processo de abordagem focalizado na análise de estereótipos sociais convergentes ao contexto do PISG ligados à produção da escassez hídrica/seca,embutidos, em grande medida, no corpus da literatura local e regional, nalgumas produções midiáticas regionais e nacionais, e a confluência de tal conjuntura inventiva mediante as intencionalidades político-econômicas contidas em relatórios internacionais, especialmente da Conferência de Haia (2000), da ONU e do Banco Mundial. Essa discussão extensiva ao PISG, enquanto território semiárido localizado no município de Sousa – PB e área core deste estudo, hidrata-se, principalmente, mediante nossa sede de saber, nas fontes secundárias de cursos naturais de conhecimentos originários da abundante sabedoria de Albuquerque Júnior (2009), Santos (2015), Castro (2007; 2016) e Silva (2010). De forma complementar, a abordagem quantitativa se processa através de dados estatísticos indicadores da invenção da crise hídrica/seca no PISG, discussão esta fomentada especialmente a partir de informações acessadas no site oficial da Agência Executiva de Gestão das Águas do Estado da Paraíba (AESA). Em relação à estrutura do trabalho, as discussões introdutórias são expressas mediante o sinuoso e pedregoso leito de nossa própria história de vida, a qual tem lastro nas dificuldades de acesso à água e na apropriação e mercantilização deste recurso, questões convergentes ao contexto do PISG, que dentro desse debate também é interpretado de maneira dedutiva, na direção de desvios artificiais produtores da escassez hídrica. O afunilamento dessa discussão se dá através da abordagem do PISG, com foco na sociogênese, no apogeu, no declínio e algumas perspectivas voltadas à ressignificação socioprodutiva, variáveis estas integrantes da fusão do nosso objeto de estudo. A construção teórica do estudo edifica-se à montante de duas montanhas teóricas jovens e cristalinasv – a Ecologia Política e a Capitalização da Natureza, das quais emergem as contribuições de Swyngedouw (2004), Ioris (2006; 2010; 2013), Leff (2006), Scantimburgo (2013) e outros estudiosos. O debate ganha contornos finais quando reforça a desconstrução do “mito” à jusante da crise hídrica/seca no PISG. O estudo desse rio temático tem foz em delta, logo os principais resultados a que chegamos indicam que o processo de desmantelamento do PISG sofreu, sobretudo, influências triviais – da oxidação física e político-administrativa dos órgãos responsáveis pela coordenação do referido empreendimento estatal; do declínio da estrutura de gestão dos recursos naturais, especialmente das águas, criando assim vulnerabilidades quanto ao controle da pressão de mercado inerente à superprodução a qualquer custo ambiental; e da invenção da crise hídrica/seca delineada por discursos superficiais embasados em falsas verdades difundidas principalmente através da pseudociência e da mídia venal. Atualmente o PISG é um “perímetro seco” que vem sendo reenventado mediante suas próprias vocações socioambientais.