Os alunos oriundos do ensino fundamental II (6º ao 9ª ano) da escola da rede pública federal, localizada no Município do Rio de Janeiro, doravante denominada Colégio Platão, apresentam dificuldades na compreensão dos objetos geométricos, que se refletem na aprendizagem em matemática e no desempenho escolar. Em sua maioria esses alunos procedem dos anos iniciais do colégio e avançam até o ensino médio. Esta tese teve como objetivo analisar a aprendizagem da geometria desses alunos, através de investigações das atuações de uma professora dos anos iniciais e dos professores de geometria do ensino fundamental II, como também realizar sondagens junto à coordenação dos anos iniciais, às orientadoras pedagógicas e alguns alunos do ensino fundamental II, ao coordenador de matemática e à direção pedagógica. Os responsáveis diretos pelo ensino da geometria são os professores de matemática, mas caberiam às orientadoras, ao coordenador de matemática, à coordenadora dos anos iniciais, à direção pedagógica e aos próprios professores a elaboração do planejamento desse ensino. Os subterfúgios desses sujeitos sobre o enfrentamento das dificuldades de aprendizagem dos alunos justificaram o uso dos procedimentos metodológicos da pesquisa, materializados através de um estudo de campo, originando-se nos anos iniciais e finalizando-se no ensino fundamental II, com observações e registros de aulas, entrevistas, como também de análises das avaliações, do livro didático e de cadernos de aula. Também se considera que nas investigações em cenários complexos como uma escola, devem-se enfatizar as perspectivas dos sujeitos. Assim sendo, a pesquisa se desenvolveu em sete fases distintas: 1) explicitação do problema de pesquisa; 2) formulação da pergunta norteadora da pesquisa; 3) revisão da literatura; 4) sondagem inicial do ambiente de trabalho nos anos iniciais; 5) aprofundamento das investigações no ensino fundamental; 6) análise e tratamento dos dados; 7) elaboração do relatório final. Os resultados indicaram insuficiência de diálogo entre a coordenação dos anos iniciais, a coordenação da matemática, a orientação pedagógica, a direção pedagógica e os professores, cujas perspectivas gerariam os desacordos e as limitações à aprendizagem dos alunos. Esses posicionamentos desdobram-se em um ensino da geometria, a partir do 5º ano, afetado pela reprodução da exposição e conteúdo do livro didático de matemática; descuidado com as conceitualizações dos objetos geométricos e amplamente atendido pela aritmética e álgebra nas atividades de geometria no ensino fundamental II, por meio da execução de tarefas triviais e mecânicas. Tais práticas ancoram-se no ensino expositivo, centralizado na pessoa do professor, na desarticulação curricular entre os dois níveis de ensino observados, no vínculo de dependência relativa dos professores às tarefas do livro-texto de matemática ou materiais similares, normalmente utilizando-os como recursos didáticos; contudo isso o livro é subutilizado à medida que se negligencia a contextualização de seus conteúdos em relação ao cotidiano. Enfim, a condução desse ensino exterioriza concepções apriorísticas do conhecimento geométrico, o que inviabiliza a exploração dos aspectos cognitivos das figuras e suas construções, ao descaracterizá-las como partícipes de um modelo representativo de objetos do cotidiano e estruturas do mundo natural, nos quais se realçariam sua natureza.