COMASSETTO, F. Efeitos analgésicos e hemodinâmicos de diferentes infusões contínuas em cadelas submetidas a mastectomia unilateral total. Tese (Doutorado em Ciência Animal – Área: Anestesiologia veterinária) - Universidade do Estado de Santa Catarina. Programa de Pós-Graduação em Ciência Animal, Lages, 2019.
A monitoração hemodinâmica e da oxigenação tecidual faz-se necessária, principalmente em pacientes idosos ou críticos e, desta forma, métodos minimamente invasivos e acurados para monitoração do débito cardíaco (DC) e da oxigenação são necessários. Esta tese apresenta-se em duas fases de estudo, que visam o desenvolvimento de um fator de correção para a mensuração do débito cardíaco pelo método de Fick, além de avaliar a segurança e eficácia de diferentes infusões contínuas em cães. Objetivou-se no primeiro momento avaliar a influência da hemoglobina sobre a determinação do DC pelo método de Fick e, desta forma, compara-lo à termodiluição na determinação deste parâmetro, além de desenvolver um fator de correção para o DC frente as diferentes fases hemodinâmicas. Para isso, oito cães machos, posteriormente encaminhados a orquiectomia eletiva, foram submetidos a diferentes estados hemodinâmicos: normotenso e em ventilação espontânea com isoflurano à 1,4 V% com FiO2 de 40% (BASAL); subsequentemente submetidos à ventilação mecânica e com isoflurano à 1,4 V% (VM); hipodinâmica (HIPO) com isoflurano à 3,5 V%; e hiperdinâmica (HIPER) por infusão de dobutamina 5μg/kg/min. Utilizou-se um cateter de Swan-Ganz para aferição do débito por termodiluição (TD) e para coleta de amostras de sangue venoso central e misto. Com o uso da calorimetria indireta obtiveram-se os valores de consumo de oxigênio (VO2) e produção de dióxido de carbono (VCO2), coeficiente respiratório (RQ = VCO2/ VO2) e expirado de CO2 (EtCO2). Para a determinação do DC por calorimetria utilizou-se o princípio de Fick para diluição de oxigênio com os valores de VO2, sangue arterial e sangue venoso misto ou central no cálculo; ou o princípio de Fick com diluição de CO2 com os valores de VCO2 e EtCO2. Observou-se a subestimação da hemoglobina em todas as fases hemodinâmicas, pelo método hemogasométrico em relação ao laboratorial de cianometahemoglobina. Antes da aplicação do fator de correção desenvolvido e ao comparar a TD com o método de Fick na determinação do DC, o erro padrão permaneceu abaixo de 30% apenas na fase hipodinâmica, indicando substituição de métodos para determinar o DC apenas nesta fase hemodinâmica, e após aplicar o fator de correção desenvolvido ao método de Fick e comparar novamente à TD, observou-se diminuição do desvio padrão do viés para todas as fases hemodinâmicas, sugerindo a possibilidade de substituição das técnicas. Conclui-se que a hemoglobina deve ser determinada sempre pelo método laboratorial e que o fator de correção para o DC proposto no presente estudo apresentou-se promissor quando aplicado ao método de Fick, caracterizando uma monitoração hemodinâmica minimamente invasiva. Posteriormente, na segunda
fase do estudo, objetivou-se avaliar a segurança clínica, eficácia analgésica e aplicar o fator de correção desenvolvido no capítulo I para uma monitoração hemodinâmica minimamente invasiva, durante a infusão contínua de diferentes tratamentos em pacientes oncológicos. Foram utilizadas 28 cadelas, alocadas aleatoriamente em quatro grupos (n=7): Morfina/Lidocaína/Cetamina (GMLK): receberam infusão contínua de cetamina, lidocaína e morfina (10 μg/kg/min; 50 μg/kg/min e 4,4 μg/kg/min, respectivamente); Dexmedetomidina/Morfina/Lidocaína/Cetamina (GDMLK): receberam infusão contínua de dexmedetomidina, cetamina, lidocaína e morfina (0,016 μg/kg/min; 10 μg/kg/min; 50 μg/kg/min e 4,4 μg/kg/min, respectivamente); Dexmedetomidina (GDEX): receberam infusão contínua de dexmedetomidina (0,016 μg/kg/min) IV; Solução salina (GC): receberam infusão contínua de solução salina (5 mL/kg/h) IV; Após a indução anestésica todos os animais foram submetidos à anestesia com isoflurano de forma dose-dependente, mantidos sob ventilação controlada ciclada à pressão de 12 cm H2O, f de 12 movimentos/minuto, relação inspiração/expiração 1:2. Todos os parâmetros cardiopulmonares, hemodinâmicos, hemogasométricos, calorimétricos e de avaliação dolorosa foram avaliados a cada 15 minutos no período trans operatório. No pós-operatório imediato (2, 4, 6, 8, 12 e 24 horas após a cirurgia) avaliou-se quanto ao grau de analgesia por meio da Escala de dor Composta de Glasgow (GCMPS) e da Escala Analógica Visual (EVA) e o grau de sedação com o auxílio da Escala de avaliação do grau de sedação adaptada de Young et al. 1990 e modificada por Girard et al. 2010. Observaram-se redução da frequência cardíaca de forma semelhante em todos os grupos, incluindo o grupo controle. O índice cardíaco diminuiu consideravelmente em M4 nos grupos GD, GMLK e GDMLK enquanto que aumento da resistência vascular sistêmica foi evidenciado no mesmo momento para estes grupos. A SaO2 e a SvcO2 mantiveram-se dentro dos limites esperados para a espécie, sendo assim os tratamentos não interferiram na capacidade de oxigenação do sangue arterial e nem no fornecimento de oxigênio aos tecidos, respectivamente. Menor requerimento de resgates analgésicos foram evidenciados no período trans e pós-operatório para todos os tratamentos propostos. Maiores escores de sedação e de dor foram detectados nas duas primeiras horas de pós-operatório de forma semelhante aos diferentes grupos do estudo. Conclui-se que os tratamentos propostos se consideram seguros e eficientes, pois as alterações sobre as variáveis hemodinâmicas não repercutiram sistemicamente e do ponto de vista analgésico, as infusões proporcionaram menores escores álgicos, resultando em diminuição no requerimento de analgésicos no período trans e pós-operatório.