A Febre Maculosa Brasileira (FMB) é a enfermidade transmitida por carrapatos de maior
importância médica da América Latina. Capivaras são hospedeiros primários para o carrapato
vetor Amblyomma sculptum, e amplificadoras da bactéria Rickettsia rickettsii, causadora da
FMB. Entretanto, o ciclo epidemiológico da doença pode envolver outros componentes.
Nesse sentido, pequenos mamíferos podem atuar como hospedeiros alternativos para
carrapatos e para a manutenção do agente. O objetivo do presente estudo foi comparar
ixodofauna e riquétsias associadas a pequenos mamíferos de áreas endêmicas e não
endêmicas para FMB. Para isso pequenos mamíferos foram capturados (2015-2018) em três
áreas endêmicas (E) e três áreas não endêmicas (NE) com alto grau de antropização no estado
de São Paulo, e em duas áreas não endêmicas com baixo grau de antropização (BIO), uma no
estado do Mato Grosso e outra no estado do Mato Grosso do Sul. Todos os carrapatos em
parasitismo nos pequenos mamíferos capturados foram coletados. Soro sanguíneo foi testado
para anticorpos anti-riquétsias por Reação de Imunofluorescência Indireta; carrapatos e
tecidos dos pequenos mamíferos tiveram DNA extraído e testado na PCR para Rickettsia. Foi
realizada uma análise comparativa de fatores ambientais que pudessem alterar a população de
carrapatos e pequenos mamíferos do local entre as áreas E e NE. Foram capturados 629
animais de 27 espécies diferentes. A prevalência de parasitismo nesses animais foi de 45,4%
nas E, 39% nas NE e 22% nas BIO. Nas E foram coletados 2795 carrapatos (A. sculptum,
Amblyomma dubitatum, Amblyomma ovale e Ixodes loricatus); nas NE 1283 (Ixodes schulzei,
I. loricatus, A. ovale, A. sculptum e A. dubitatum) e nas BIO 342 (A.sculptum, Amblyomma
parvum, A. ovale, Ornithodoros mimon e I. loricatus). A. sculptum correspondeu a 81% dos
carrapatos nas E, 10,7% nas NE e 43,8% nas BIO, ocorrendo majoritariamente no marsupial
Didelphis sp. nas E e NE. Foram soropositivos 33,3% dos roedores e 19,2% dos marsupiais
nas E, 15,7% e 10,3% nas NE e 12,6% e 11,2% nas BIO respectivamente. Nas E a taxa de
infecção dos carrapatos testados pela PCR foi de 13,8%, nas NE 24,1% e nas BIO 48,6%.
Nenhuma amostra de tecido foi positiva. As áreas NE apresentaram diferenças significativas
na variável complexidade de sub-bosque, sendo mais complexo nessas áreas. A composição
na comunidade de hospedeiros e carrapatos diferiu entre as três áreas estudadas. Evidencia-se
maior circulação de riquétsias e maior número de A. sculptum nas E, apesar da similaridade na
abundância do principal pequeno mamífero associado a ambos, Didelphis sp., entre as E e
NE.