O desenvolvimento intraeritrocítico do parasita da malária Plasmodium falciparum, é
dependente da captação de uma série de nutrientes essenciais do citoplasma da
célula hospedeira e do plasma sanguíneo. É amplamente reconhecido que o mesmo
importa nutrientes de baixa massa molecular, tais como polióis, aminoácidos, lipídios,
nucleosídeos, ânions orgânicos e cátions do plasma. No entanto, apesar de alguns
estudos mostrarem que o P. falciparum é capaz de importar macromoléculas do
hospedeiro, a rota para internalização continua sendo objeto de debate entre
diferentes grupos, devido principalmente à necessidade destas macromoléculas
passarem por três membranas, sendo elas a do eritrócito, vacúolo parasitóforo, e a do
próprio parasita. Para melhor compreensão desse processo, este estudo fornece
novas evidências que auxiliam na elucidação do mecanismo utilizado pelo parasita na
internalização de macromoléculas, com um enfoque na captação de proteínas.
Utilizando diferentes abordagens experimentais, demonstramos que o P. falciparum
importa plasminogênio humano e a proteína exógena crotamina, em diferentes fases
do seu desenvolvimento intraeritrócitico. No eritrócito infectado, o plasminogênio
localiza-se no citosol do parasita, e também está presente nos Maurer’s Cleft e
estruturas tubulares no citosol do eritrócito, as quais são descritas como associadas
com a exportação de proteínas. Além disso, algumas interações podem estar
envolvidas com a internalização do plasminogênio, tais como, com proteínas Rabs,
cinesina, miosina, PfMC-2TM, Pf113 e heat shock proteins. Houve uma redução na
captação do plasminogênio pelo parasita após o tratamento dos eritrócitos infectados
com citocalasina D, o que sugere a participação do sistema motor actina-misiona no
tráfego da proteína. Crotamina foi seletivamente internalizada por eritrócitos
infectados, e apresentou uma colocalização com o núcleo do parasita e parte da
proteína permaceu associada a membrana plasmática do eritrócito. Sua captação
mostrou-se sensível ao tratamento com 2- deoxi-D-glicose, indicando ser um
mecanismo dependente de energia via glicólise. Os resultados obtidos aqui oferecem
novos elementos envolvidos nas vias de captação de macromoléculas em eritrócitos
infectados, que podem constituir um potencial alvo para o desenvolvimento novos
fármacos, além de identificar as características da permeabilidade da célula infectada.