A saúde está intimamente relacionada a condições socioeconômicas, culturais e ambientais. Para que atenda ao princípio da integralidade, é necessário um profissional com olhar ampliado para o indivíduo, sua história e seu contexto de vida. A formação médica deve contemplar a diversidade humana e desenvolver habilidades de comunicação. O aprendizado da Língua Brasileira de Sinais (Libras) pelos médicos facilitaria o acesso dos surdos aos serviços de saúde e melhoraria o vínculo profissional-paciente. O objetivo desta pesquisa está em analisar os efeitos de um curso de Libras com atividade prática em estudantes de Medicina e em surdos, no que tange a atitudes, concepções e sentimentos. Participaram 47 estudantes do primeiro ano de Medicina de uma faculdade do interior paulista e 19 surdos de uma comunidade local. Os estudantes compuseram dois grupos, controle (GC) e experimental (GE). Todos passaram por pré e pós-testes. Na fase pré, foi aplicada a todos os estudantes a Escala Likert de Atitudes Sociais em relação à Inclusão, e aos surdos, um questionário sobre comunicação e acesso aos serviços de saúde. Posteriormente, os estudantes do GE passaram por um curso de Libras com métodos ativos de ensino e aprendizagem, com 12 encontros semanais e uma atividade prática de Educação em Saúde dirigida aos surdos. Os encontros tiveram duração de uma hora e meia cada e a atividade prática de duas horas. Após o curso, o pós-teste dos estudantes deu-se por meio da escrita de uma narrativa reflexiva sobre sua vivência. No pós-teste, os surdos participaram de dois encontros de grupos focais, norteados por um roteiro semiestruturado para identificar sua experiência de contato com os estudantes. Os dados quantitativos foram analisados por meio de Estatística Descritiva e foram feitos cálculos estatísticos para comparação dos dados de GE e GC do pré e pós-testes. Os dados qualitativos dos estudantes foram analisados com base na Análise de Conteúdo e os dos surdos, por meio do Discurso do Sujeito Coletivo. Os resultados mostraram dificuldades de acesso aos serviços de saúde e à informação por parte dos surdos, com dúvidas após os atendimentos, mesmo na presença de intérpretes. Após a atividade prática de Educação em Saúde, observou-se nos surdos a preocupação com a prevenção e o autocuidado, além da esperança
pela formação de profissionais médicos mais humanizados e qualificados para o atendimento dessa população. Quanto aos estudantes, o GE apresentou mudanças estatisticamente significantes em suas atitudes sociais em relação à inclusão, que se tornaram mais positivas. Após o curso, os estudantes indicaram sensibilização para o contato com o surdo, interesse em conhecer mais a Libras e preocupação com aspectos da comunicação e humanização em sua formação. Conclui-se que a oferta de um curso de Libras com métodos ativos, somado à atividade prática de interação dos estudantes com os surdos, ou seja, a integração entre informação e contato social, foi uma estratégia eficaz para mudança de atitudes sociais dos estudantes, bem como, produziu efeitos positivos em sua sensibilização para o cuidado dos surdos, indicando sua potencialidade na formação de futuros médicos.