A presente pesquisa tem por objetivo investigar o conceito de vida construído ao longo da obra
de Georges Canguilhem a partir de seus conceitos subjacentes, a saber: normal e patológico,
ciência e técnica, norma, valor, fato e morte. Em outros termos, almejamos discutir a vida a partir
daquilo que ela produz e, ao mesmo tempo, também a constitui. Isso porque, ao longo de seu
projeto filosófico, Canguilhem, por meio do que ficou conhecido como “epistemologia histórica”,
elabora um novo modo de fazer história e filosofia da ciência e de compreender o
desenvolvimento do conhecimento científico à luz da análise filosófica e, por conseguinte, lança
uma nova perspectiva sobre problemas relacionados a alguns conceitos, entre eles, o conceito de
vida. O filósofo e médico francês compreenderá a vida à luz dos conceitos de normalidade e
patologia, saúde e doença, como uma polaridade dinâmica, como forma e poder do vivente, e,
deste modo, atribuirá à sua estruturação a dinâmica relação de contrários, valores negativos e, ao
contrário de certa estabilidade artificial que historicamente certa interpretação positivista e
mecanicista tentou construir a fim de tornar a vida um objeto da ciência. Deste modo,
realizaremos uma exegese no projeto canguilheano acerca da vida, articulando os conceitos
citados em diferentes momentos do pensamento canguilheano que, por fim, culminará em uma
nova concepção do conceito de vida que, em resumo, reafirmará a originalidade do ser vivo, e
ainda mais do vivente humano, frente às leituras que buscam fazer do organismo uma máquina.