A incessante busca por novas possibilidades terapêuticas no combate ao câncer de pulmão conduziu à descoberta de que neoplasias dos mais variados tipos e subtipos histológicos são suscetíveis ao efeito de vírus a partir de dois princípios de ação, o ataque celular direto e a promoção da resposta imune, inata ou adquirida. A terapia por vírus oncolíticos consiste no uso de partículas virais naturais ou modificadas geneticamente, as quais replicam-se seletivamente no interior de células tumorais. Apesar desta linha de pesquisa ser quase secular, somente nos últimos anos conseguiu-se demonstrar, em ensaios clínicos significativos, os benefícios da viroterapia em pacientes portadores de neoplasia. A partir destes estudos e levando-se em conta a escassez bibliográfica de ensaios clínicos impactantes em pacientes com câncer de pulmão primário e secundário, além da constatação de que tais estudos prioritariamente utilizam linhagens tumorais imortalizadas e não amostras de cultivo primário, formulamos a hipótese de desenvolver um estudo específico em pacientes portadores de neoplasia pulmonar, primária e secundária. O objetivo do estudo consiste na determinação e quantificação da atividade oncolítica viral em amostras biológicas tumorais. Para tanto, 15 amostras pulmonares tumorais humanas, oriundas de pacientes atendidos pelo Serviço de Cirurgia Torácica do Hospital Regina, localizado em Novo Hamburgo (RS), foram expostas a potenciais vírus oncolíticos, especificamente enterovírus bovino (BEV) e suíno (Senecavirus SVV-001), a fim de correlacionar a infecção viral subpatogênica com atividade antitumoral. Duas amostras teciduais pulmonares adaptaram-se adequadamente ao cultivo celular primário e foram testadas com BEV e SVV-001. Os resultados demonstraram haver claro efeito citopático nas amostras submetidas ao BEV, ilustrado por redução de mais de 50% na contagem celular após inoculação, quando comparado ao controle. Os testes com SVV-001 não demonstraram efeito citopático significativo. Espera-se, com isso, que possamos entender melhor o funcionamento da terapia viral oncolítica e aplicar os resultados na busca por mais uma ferramenta terapêutica no combate a esta enfermidade que, somente neste ano, matará centenas de milhares de pessoas no mundo.