Sarcoma de aplicação felino (SAF) é uma neoplasia cutânea mesenquimal que
surge em locais de aplicação de vacina, medicamentos ou traumas frequentes, cujo
tratamento se baseia nos princípios da cirurgia oncológica, ou seja, excisão com
amplas margens, associada à radioterapia e/ou quimioterapia. Entretanto, pelo seu
caráter maligno e infiltrativo, os índices de recidiva são altos e as terapias, com
baixas taxas de sucesso. O presente estudo teve como objetivo avaliar a eficácia do
agente antitumoral Fosfoetanolamina Sintética (FO-S) como terapia neoadjuvante e
adjuvante, a partir das características clínicas, termográficas, tomográficas,
histológicas e imuno-histoquímicas dos SAF. Vinte e um felinos foram incluídos no
estudo, com idade média de 9,1 anos, peso médio de 4,8kg, sendo 76% fêmeas e
76% sem raça definida. Sete já haviam sido submetidos à cirurgia prévia para
remoção do SAF, com recidiva em média 6,8 meses depois. A aplicação de FO-S foi
realizada por via endovenosa, na dose de 70mg/kg, semanalmente, por quatro
sessões, iniciando-se imediatamente após a cirurgia (G1 = 11 animais) ou quatro
sessões pré e quatro pós procedimento cirúrgico (G2 = 10 animais). A maioria dos
tumores se classificou como fibrossarcoma, sendo 57% grau II, 33% grau III e 10%
grau I. As imagens termográficas obtidas por câmera infravermelha não detectaram
diferença estatisticamente significante nas temperaturas da área tumoral com
relação à área saudável ao redor, nem entre as temperaturas do tumor antes e após
o ciclo de aplicação da FO-S, nos animais do G2. A tomografia computadorizada
mostrou diferença significativa na mensuração dorsoventral das lesões, quando
comparada ao uso do paquímetro, porém o aspecto e tamanho dos tumores
permaneceram inalterados depois do tratamento com FO-S. O mesmo pode ser
observado na análise imuno-histoquímica, que não detectou diferença na expressão
de Ki-67 e caspase-3 nos tumores do G1, quando comparados àqueles submetidos
a FO-S, no G2. Durante o período de acompanhamento de 18 meses, a sobrevida
média foi de 9 meses, a taxa de recidiva foi de 24% e o intervalo livre de doença
local foi, em média, 9 meses. Sem efeitos adversos importantes, a FO-S se mostrou
segura à utilização em felinos, porém não alterou o tempo médio de intervalo livre de
doença nem a sobrevida dos animais, quando comparada ao grupo controle. A
inclusão de mais pacientes e maior tempo de observação se fazem necessários para
avaliar a eficácia do agente no tratamento do SAF.