A tese analisa as formas de configuração da partilha (sharing) no contexto urbano. No
contraponto entre as visões da motivação gregária e de solidariedade, com as abordagens de
motivação financeira e utilitarista, busca-se ampliar o debate sobre as transformações
socioeconômicas que as cidades vivenciam com base nas discussões da Nova Sociologia
Econômica, que prevê a ação econômica construída na relação entre os atores. A partilha é
analisada como proposta de modos diferentes de vida na cidade, buscando relações a partir do
uso comum enquanto forma organizativa da economia urbana. As cidades se transformaram
em espaços transnacionais de comando da organização da economia global, reproduzindo,
muitas vezes, o papel ideológico que o planejamento hegemônico desempenha de
produção/consumo de exploração. Esse sistema, marcado por hierarquização e segregação,
parece coexistir na lógica do compartilhamento, na medida em que desloca discursos, forma
novas contradições e repagina o acesso a recursos materiais ou simbólicos a partir de narrativas
que tendem a encobrir a desigualdade. Ao se manifestar, ele pode alterar dinâmicas da vida
social urbana e, sucessivamente, gerar novos formatos de contradições, sem, no entanto,
promover a mudança para um sistema equitativo. Ainda que, na economia da partilha, as
motivações dos indivíduos e organizações apresentem multidimensionalidades, para a partilha
ter condições de proporcionar mecanismos para a mobilização da sociedade civil, a fim de
conduzir a melhorias de seus modos de vida, é preciso entender quais potências ela carrega e
quais contradições ela (re)cria. Apesar de suas práticas apresentarem concepções que fogem à
lógica estritamente financeira, análises críticas reverberam que os pilares da economia
tradicional permanecem. A partir das experiências e vivências de agricultura urbana
pesquisadas, analisa-se que a economia da partilha não representaria uma forma revolucionária
de sociedade ao reforçar – ainda que seja com discurso de cooperação e colaboração – a
exploração das pessoas pelos meios de produção, a exclusão de sujeitos e a invisibilização de
iniciativas mais comunitaristas. Como forma de buscar uma administração democrática sobre
o processo urbano, o direito à cidade se apresenta, mas desvela desafios para superar o
economicismo e proporcionar uma revolução da participação social que gerem emancipação
humana, (re)construindo formas de vida na cidade a partir da perspectiva da justiça social. Se
libertária, autônoma, geradora de capacidades democráticas e de força social e comunitária, a
economia da partilha encaminharia novos modos de vida mais justos e sustentáveis. Pela via
da agricultura/hortas urbanas, ganha força como meio de denúncia e transformação das
desigualdades sociais, frente à privatização de espaços nas cidades, concentração de renda e
estruturas de dominação, a fim de renovar os modos de vida urbana – a partir de ações
microssociológicas – e suscitar implicações características de um direito à cidade ampliado.