O camarão é considerado uma iguaria gastronômica, amplamente aceito e demandado pelos consumidores de diferentes regiões do Brasil e do mundo. Grande parte do camarão produzido no Brasil vem de um ramo específico da aquicultura chamado de “carcinicultura”. A cadeia produtiva da carcinicultura marinha é fundamentalmente composta por três elos centrais, que lhe conferem características de agronegócio e que precisam ser operacionalizados de forma integrada: (i) o segmento de reprodução e larvicultura; (ii) as fazendas de crescimento e engorda; (iii) as unidades de processamento/beneficiamento e comercialização do produto final para o mercado consumidor. O processo produtivo de camarões em viveiros é relativamente complexo, envolve mão de obra qualificada e implica em significativos investimentos financeiros. No entanto, a atividade enfrenta uma série de desafios no Brasil, como morosidade e grande burocracia relacionadas ao processo de licenciamento ambiental; conflitos com outros usuários de áreas costeiras, como jangadeiros, marisqueiras, pescadores artesanais, e com outras atividades extrativistas; problemas relacionados ao potencial poluidor da atividade, principalmente devido aos efluentes provenientes dos sistemas de cultivo e ainda, nos últimos anos, os produtores brasileiros passaram ainda a conviver com graves surtos de enfermidades que afetam os camarões cultivados, como é o caso da Síndrome da Mancha Branca (WSSV). Diante deste cenário instável e desafiador, os carcinicultores brasileiros passaram a buscar alternativas para aumentar a eficiência do processo produtivo. Nesse contexto surge a Produção Integrada (PI), um regime voluntário de produção que visa melhoria do controle sanitário, proporcionando maior eficiência e domínio sobre o processo produtivo e, ainda, atendendo as exigências dos mercados internacionais. O principal objetivo desse trabalho foi caracterizar a cadeia produtiva da carcinicultura marinha brasileira na fase de engorda e avaliar os desafios e potencialidades do regime de produção integrada (PI) como alternativa para promover o desenvolvimento do setor. Por meio de levantamento bibliográfico sistemático (metodologia PRISMA - preferred reporting items for systematic reviews and meta-analyses) foi possível a caracterização do sistema de engorda de camarões marinhos no Brasil e também a contabilização do uso de energia nos principais processos operacionais envolvidos nessa fase do cultivo. Essa análise gerou os dados utilizados na elaboração de duas fazendas hipotéticas de camarão, uma gerida e operada nos moldes convencionais e outra de acordo com os princípios da produção integrada. Ambas as fazendas têm 18 ha de área total e possuem quatro berçários (55 m3 cada) e nove viveiros de 1 ha; utilizam ração e fertilizantes; possuem como estruturas acessórias depósitos, refeitório, banheiros, vestiários, garagem e vias de acesso principais e secundárias. Nelas, o bombeamento de água (bombas de 20 hp) e a aeração (aerador tipo pá – 4hp) são realizados mecanicamente. Ambas adotam ainda sistema operacional bifásico e regime de produção semi-intensivo. Na fazenda convencional a densidade inicial média é de 43 camarões/m2, ciclo de cultivo de 90 dias e produtividade estimada em 3.500,00 kg/ha. Com base nessas características, o custo total de energia calculado foi de 834.483,87 MJ. Após realização de revisão bibliográfica, foram estabelecidos critérios para a aplicação prática dos princípios da PI para a carcinicultura. Em seguida, analisou-se de forma conceitual comparativa, a PI e a produção convencional (PC), avaliando, sob aspectos sociais, econômicos, ambientais e de gestão, a utilização da PI como ferramenta para o desenvolvimento setorial da carcinicultura no Brasil. Os resultados indicam que os principais desafios para o sucesso da PI no Brasil são: i) ausência de padrões técnicos específicos para a certificação de fazendas de camarão; ii) possibilidade de aumentar os custos de investimento envolvidos na instalação e operação de empreendimentos certificados; e (iii) não diferenciação no mercado interno de produtos certificados e não certificados. Por outro lado, a PI introduz forças superiores à da PC: i) adoção de uma visão sistêmica da cadeia produtiva; ii) rastreabilidade de produtos e processos; iii) redução de barreiras ao licenciamento ambiental de fazendas de aquicultura; iv) redução de riscos e danos causados por doenças; e v) otimização no uso de recursos naturais, insumos e energia. Por fim, foram realizadas simulações para análise de viabilidade econômica entre os regimes de PC, utilizando-se a fazenda hipotética supracitada, e de PI de camarões marinhos em viveiros. A PI apresentou indicadores microeconômicos inferiores aos da PC, no entanto, os resultados obtidos não decretam a sua inviabilidade, pelo contrário, apontam um caminho a ser trilhado e aperfeiçoado. Nesse sentido, os resultados aqui obtidos poderão ser úteis como ponto de partida para a redução das diferenças entre empreendimentos convencionais e integrados e para a viabilização da produção integrada na carcinicultura.