O problema central da tese “O alto e o baixo na arquitetura” é desenvolvido a partir do estranhamento dos sistemas de classificações. O suporte categórico vem do Formalismo
russo, movimento que revolucionou a Teoria Literária na segunda década do século XX.
Sugerem-se dois conceitos fundamentais, o da automatização da linguagem e o de
estranhamento sobre o sistema de classificações, que serão a base para formar a constelação
categórica entre os estudos de caso, os recursos da arquitetura e os recursos da Teoria
Literária. A partir da problematização central, apresenta-se uma análise dos gêneros que põe
em visão panorâmica as dicotomias convencionadas em torno da verdade e representação,
dos recursos de elevação e rebaixamento, do popular e erudito, dos sagrados e profanos, da
beleza e da feiura. Os conceitos são direcionados às contradições e tensões inerentes ao
objeto arquitetônico, questionando-se as verdades por trás das convenções estabelecidas. Os
estudos de caso compreendem uma cadeia genética que é o fio condutor da tese e que dará
sentido à constelação categórica. Cronologicamente, o movimento inicial foi dado por
Dismaland, sendo o primeiro objeto a ser estranhado. Criou-se então a seguinte estrutura
hipotética: a instalação parodia o best-seller “Disney” que se sustenta pelo gosto popular
(kitsch), sendo um gênero menor que imita o elevado. O elevado é representado pelo castelo
da Baviera, uma estilização dos castelos medievais. Mais do que estudar a perspectiva da
arquitetura como expressão renegada, estudam-se os gêneros e as espécies renegadas. Ao
questionar-se as classificações dentro dos sistemas arquitetônicos, questionam-se os critérios
que definiram os exemplares e os renegados. O olhar particular pode revelar, além da
realidade aparente, a realidade oculta. O conceito de aparência, nesse sentido, dialoga com a
ideia da beleza aparente como verdade. Estudar a arquitetura no sistema das artes é um meio
de elevar algo que foi rebaixado, deixando o objeto em si em segundo plano, assim como
estudar os “renegados” na arquitetura pode, igualmente, deslocar o foco do objeto para o
sistema que o envolve. Diante dessa contradição, o trabalho sugere dois movimentos: a visão
panorâmica do sistema de convenções e classificações da arquitetura e a visão particular de
determinadas obras como chaves hermenêuticas de interpretação desse mesmo sistema que
as compõem. Em outras palavras, a sinédoque: ver a parte no todo e o todo no fragmento.
Admitindo-se que a Literatura Comparada pode contribuir fundamentalmente para o
desenvolvimento da disciplina de “arquitetura comparada”, propõe-se o deslocamento de
alguns dos recursos de elevação e de rebaixamento da literatura para objetos arquitetônicos.
Estudam-se os recursos e gêneros da dissimulação, ou seja, do disfarce e do ocultamento da
verdade. Quem ri de quem? Quem parodia e quem é parodiado? São perguntas que permeiam
o texto na tentativa de revelar os agentes ocultos, disfarçados pelos recursos de automatização
da experiência e de supressão da linguagem.