Introdução: A migrânea pode alterar a espessura e o funcionamento do lobo temporal, onde se encontra a última estação da via auditiva no córtex. Portanto, identificar alterações no comportamento auditivo e nos potenciais evocados auditivos de indivíduos com migrânea, pode auxiliar no entendimento dos efeitos dessa doença no sistema nervoso auditivo central. Objetivo: Analisar as habilidades auditivas e os potenciais evocados auditivos em adultos com diagnóstico de migrânea vestibular, migrânea com e sem aura, e comparar com os de adultos sem cefaleia. Métodos: Foram selecionados 43 voluntários reunidos em três grupos: -Grupo Migrânea vestibular (MV): 13 indivíduos (12 mulheres e 1 homem) com migrânea vestibular, com valores médios: 24,31 anos, 6,62 dias de cefaleia /mês e 13,23 anos de tempo de doença; - Grupo migrânea com e sem aura (MwA e MA):15 indivíduos com migrânea com e sem aura (13 mulheres e 2 homens), com valores médios: 26,67 anos, 7,67 dias de cefaleia/ mês, 13,33 anos de tempo de doença; - Grupo controle (GC): 15 indivíduos (13 mulheres e 2 homens), com valores médios de 24,33 anos sem cefaleia. Os participantes dos grupos MV e MwA e MA foram diagnosticados de acordo com a International Headache Society (ICHD-III, 2013). Os critérios de exclusão foram: doenças psiquiátricas ou outras doenças neurológicas, trauma craniano, perda auditiva, uso de medicamentos ototóxicos, migrânea crônica e uso de medicação preventiva para migrânea ou que afetem o sistema nervoso central. Os procedimentos de elegibilidade da amostra foram: anamnese, audiometria tonal liminar e medidas de imitância acústica. Os procedimentos de estudo foram: a avaliação da habilidade de resolução temporal em segmento de ruído (GIN), avaliação da ordenação temporal com o Teste Padrão de Duração (TPD) com tons puros, avaliação da habilidade de figura- fundo para sons verbais em escuta dicótica com sílabas (TDCV) e palavras (SSW), e avaliação eletrofisiológicas utilizando o PEATE clique e P300. Resultados: Não foram encontradas diferenças estatisticamente significantes para as variáveis idade, nível de escolaridade e sexo entre os três grupos. Não foram encontradas diferenças estatisticamente significantes entre os grupos com migrânea para as variáveis: dias de cefaleia por mês e tempo médio de doença. A casuística foi constituída por indivíduos com limiares auditivos, timpanometria e reflexos acústicos normais, no entanto, na análise estatística foram identificadas diferenças com limiares maiores para os grupos com migrânea. No estudo das habilidades de ordenação e resolução temporal foi identificado desempenho inferior, com diferenças estatisticamente significantes, para os grupos com migrânea em relação ao grupo controle. Não houve diferenças significantes para a habilidade de figura-fundo entre os três grupos. Na avaliação eletrofisiológica verificou-se desempenho inferior, com diferenças estatisticamente significantes, no grupo MwA e MA para a latência e amplitude da orelha direita no P300 em relação ao grupo controle. Não houve diferenças estatisticamente significantes entre os grupos para as medidas de latências do PEATE clique, no entanto, 3 indivíduos do grupo MV e 7 do grupo MwAeMA obtiveram alterações. Conclusões: As habilidades do processamento temporal mostraram uma disfunção no processamento neurológico da informação auditiva quanto à resolução e ordenação temporal de sons breves e sucessivos que se diferem quanto à sua duração nos grupos com migrânea quando comparados ao grupo controle. Os potenciais de longa latência mostraram uma velocidade de processamento diminuída e também uma redução da atenção ao estímulo nos indivíduos com migrânea, com e sem aura, em relação ao grupo sem cefaleia. O perfil das habilidades auditivas avaliadas e dos potenciais evocados auditivos não diferenciaram os grupos com e sem componente vestibular. Conclui-se, portanto, que a avaliação auditiva pode contribuir com o diagnóstico e a intervenção neurológica de pacientes com migrânea.