As plantas calcinogênicas têm importância na medicina veterinária mundial por conterem glicosídeos, que após a sua ingestão, liberam metabólitos da vitamina D, potencialmente nocivos. No Brasil, as espécies Solanum glaucophyllum (S. malacoxylon) e Nierembergia veitchii são responsáveis pela calcinose enzoótica, intoxicação de caráter endêmico que acomete ruminantes. A calcinose é caracterizada pela calcificação de tecidos moles e está frequentemente associada à metaplasias óssea e cartilaginosa. A hipótese do primeiro experimento é que as células tronco mesenquimais (CTMs) estejam envolvidas na gênese do processo de metaplasia óssea causado pela S. glaucophyllum, o que ainda carece de comprovação científica. Além da metaplasia, a intoxicação pela S. glaucophyllum causa alterações ósseas, representadas por osteopetrose, osteonecrose e osteoporose. Por ser o osteoblasto uma célula que deriva da diferenciação osteogênica das CTMs da medula óssea, a hipótese do segundo experimento é que a osteoporose induzida pela intoxicação por S. glaucophyllum seja decorrente não somente da ação da planta sobre os osteoblastos, como também do seu efeito sobre a diferenciação osteogênica das CTMs. A concentração de 1,25(OH)2D3 obtida, por meio da técnica de cromatografia líquida, no extrato da planta foi de 3,8 µg/mL. Em ambos os experimentos, foram testados os efeitos de 100µL, 1mL e 50mL de extrato/L, contendo respectivamente, 1nM (0,4 µg/L), 10nM (4 µg/L) e 50nM (20 µg/L) de 1,25(OH)2D3. Foram realizados os seguintes ensaios: ensaio de MTT, atividade de fosfatase alcalina, determinação da porcentagem de células por campo, número de nódulos de mineralização e avaliação da expressão dos transcritos gênicos para osteopontina, sialoproteína óssea e BMP-2, por RT-PCR tempo real. No primeiro experimento, culturas de CTMs da medula óssea foram utilizadas como modelo para estudo dos efeitos da S. glaucophyllum na indução da diferenciação osteogênica de células indiferenciadas. Na concentração de 5mL de extrato de S. glaucophyllum por L de cultura desprovido de fatores indutores da osteogênese, o extrato da planta induziu diferenciação osteogênica das CTMs, comprovada pela maior síntese de matriz mineralizada e pelo aumento da expressão relativa dos transcritos gênicos para BMP-2. A diferenciação osteogênica induzida pelo extrato da planta foi estatisticamente semelhante à diferenciação induzida por meio de cultura contendo fatores que comprovadamente induzem osteogênese, representados pelo β-glicerofosfato, ácido ascórbico e pela dexametasona. Conclui-se que culturas de CTMs da medula óssea de ratos são um bom modelo para estudar o efeito do extrato da S. glaucophyllum sobre a diferenciação osteogênica de células indiferenciadas e que os extratos de S. glaucophyllum contendo 10nM (4 µg/L) e 50nM (20 µg/L) de 1,25(OH)2D3 causam diferenciação osteogênica de CTMs, sugerindo ser este um dos mecanismos pelo qual a S. glaucophyllum produz metaplasia óssea. No segundo experimento, a fim de estudar os efeitos da S. glaucophyllum em CTMs submetidas à diferenciação em osteoblastos, diferentes concentrações do extrato da planta foram adicionadas ao meio de cultura, juntamente com fatores conhecidamente promotores de diferenciação osteogênica, representados pelo β-glicerofosfato, ácido ascórbico e pela dexametasona. Aos 21 dias, nas concentrações de 1mL e de 5mL de extrato/L, houve redução significativa do número e do tamanho dos nódulos de mineralização, respectivamente. A concentração de 5mL de extrato/L também reduziu significativamente a expressão do transcrito para osteopontina em comparação ao controle. Conclui-se que o extrato de S. glaucophyllum apresenta efeito negativo sobre culturas de CTMs comprometidas com a diferenciação osteogênica, o que sugere ser este um dos mecanismos pelo qual ocorre osteoporose nos animais intoxicados pela planta