Fernando de Noronha é um arquipélago oceânico a 345 km da costa brasileira, habitado desde o século XVII. Sua economia é baseada no turismo, que tem apresentado rápido crescimento nas últimas décadas. Este ecossistema único é reconhecido como Patrimônio Mundial pela Unesco e é um sítio Ramsar. Toda sua extensão terrestre e grande parte da área marinha ao seu redor é protegida por duas unidades de conservação federais, sob tutela do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade. Existem pelo menos 15 espécies de plantas e animais nativos oficialmente ameaçadas de extinção, algumas destas sendo endêmicas do arquipélago. Dentre as 22 espécies de animais e plantas invasoras conhecidas em Fernando de Noronha, o teiú (Salvator merianae) representa um grande risco à fauna nativa por ser um predador oportunista de grande porte. O potencial impacto do teiú é reconhecido e seu manejo é previsto pelas unidades de conservação do arquipélago. O teiú se encontra presente em altas densidades na ilha principal e foram registrados indícios de sua presença ao menos na Ilha Rata. A densidade de teiús encontrada em Fernando de Noronha foi de 13,83± 3,9 animais por hectare em uma área não habitada de vegetação preservada e de 3,98± 1,1 animais por hectare numa área pouco habitada. O número de animais calculado para a ilha principal varia entre 6.906 a 12.270 indivíduos adultos. A área de vida foi de 10,54 (7,26-15,33) ha para ambos os sexos. A probabilidade de captura foi de 0,24±0,06 animais/armadilha/dia na área, com 3,98 animais/ha, sendo influenciada pelo tamanho dos indivíduos. O teiú também representa um potencial risco à saúde pública do arquipélago, por serem portadores da bactéria Salmonella enterica, isoladas em 56,9% dos animais capturados e em 70,5% dos pontos amostrados. Ao menos 15 sorotipos foram determinados por métodos moleculares para esta população. Para propor formas de manejar esta espécie em Fernando de Noronha, foram criados modelos de viabilidade populacional com diferentes cenários de manejo por 10 anos. Nos cenários sem manejo, a população de teiús não se extingue ao longo de 30 anos. O aumento das probabilidades de extinção é proporcional ao aumento da intensidade de manejo, tanto nos cenários que consideram a população de toda a ilha principal (A) quanto nos cenários que consideram parte desta população numa área de 214 ha (B). A remoção anual de 20% dos indivíduos adultos é suficiente para gerar cenários de extinção da população. Com a remoção de 50% dos indivíduos adultos anualmente, a probabilidade de extinção é de 54% e a média do tempo para a extinção está entre 5,2 e 5,4 anos de manejo, demonstrando que o controle desta espécie é possível em Fernando de Noronha, se os métodos de captura e esforço forem adequados. O manejo em uma pequena área (C) de 2,14 ha poderia ser feito em apenas 13 dias utilizando-se 10 armadilhas. Na área B (que inclui a área C), o manejo de maior intensidade poderia ser realizado em 44 dias por ano, durante quatro anos, 16 utilizando 258 armadilhas. Recomendações incluem o aumento gradativo da área manejada, o uso de manejo adaptativo, o envolvimento da sociedade e o sinergismo com outros esforços de manejo de espécies invasoras na área ambiental e de saúde pública. Este trabalho fornece a base científica para um programa de manejo com objetivo de conservar a biodiversidade e de melhorar a saúde pública em Fernando de Noronha.