O objetivo deste trabalho é analisar discursos literários de construção do semiárido
brasileiro por meio da seca e suas representações sociais iniciadas e continuadas
nas obras de Graciliano Ramos e Rachel de Queiroz, além de considerar os
processos dinâmicos do território semiárido, mutável e simbólico para a construção
de diferentes visões históricas e sociais. Com o intuito de atender com saberes, o
objetivo em questão, adentramos nos meandros da pesquisa qualitativa e de
natureza descritiva/interpretativa, tendo como corpus discursos literários das obras O
Quinze, de Rachel de Queiroz e Vidas Secas, de Graciliano Ramos. O processo de
análise é norteado pelos vieses da Análise do Discurso de vertente francesa,
materializado através das categorias: interdiscurso, memória discursiva, as
condições de produção dos discursos, noções de sentido e sujeito. Além disso, as
discussões são guiadas pelas palavras de Albuquerque Júnior (2011), Foucault
(1979), Orlandi (2004), Maingueneau (2009), Pêcheux (1999), Malvezzi (2007) e
outros autores. No percurso da pesquisa, nosso primeiro mergulho teórico ocorre
nas águas que regem os discursos e as forças da literatura, citando a relevância
dessas duas vertentes de conhecimento para a sociedade. Logo em seguida,
sentimos os ventos advindos das discussões hídricas, que a água tem se
transformado num produto comercial e fortificado o mundo capitalista. E dentro do
capítulo de análise, vemos o quanto Rachel de Queiroz e Graciliano Ramos fazem
um retrato literário do semiárido brasileiro, mostrando como algumas pessoas
perpassam com dificuldades para manter viva a chama viva da sobrevivência. A
saída, em muitos casos é a migração, tida como recurso para fugir da fome e afastar
para longe o fantasma da morte, que assusta aqueles que as ações políticas não
protegem. Dessa forma, temos uma pesquisa que analisa discursos literários em
que o semiárido brasileiro é o protagonista, explorando os impactos das secas no
âmbito social e ausência do poder público, tudo isso usando, muitas vezes, um tom
mais poético no processo de escrita.