O impacto econômico dos transtornos mentais e comportamentais relacionados ao uso de álcool e drogas pode ser mensurado a partir do maior consumo de serviços de saúde, da menor produtividade no trabalho e do gasto com a compra das drogas. No Brasil, houve um aumento na prevalência do uso precoce de drogas nos últimos. Faltam estudos sobre o impacto econômico da exposição precoce ao uso destas substâncias nos diferentes setores da sociedade. Objetivos: Avaliar os custos diretos, indiretos e totais de sujeitos com uso grave e moderado de substâncias psicoativas sob a perspectiva da sociedade, verificar as suas relações com a exposição precoce ou tardia as drogas e aspectos psicossociais (qualidade de vida, participação social, percepção de suporte familiar e ansiedade generalizada), no contexto de um Centro de Atenção Psicossocial para Álcool e Drogas modalidade II. Outro objetivo foi estimar o custo total do CAPS-ad II e de seus pacotes de tratamento de acordo com a perspectiva do gestor público de saúde. Método: Este foi um estudo retrospectivo de análise de custo, sob a perspectiva da sociedade, com desenho transversal. A principal hipótese do estudo foi que a exposição precoce à droga(s) contribui para um maior custo total da dependência química na idade adulta. Foram selecionados de acordo com os critérios de inclusão 105 usuários de drogas de um CAPS-AD da cidade de Rio Claro- SP que apresentaram escores para uso moderado e grave para pelo menos uma substância psicoativa mensurados pelo ASSIST. Os grupos foram comparados pela idade de início do uso de drogas: grupo de exposição precoce- primeiro uso com idade igual ou inferior a 15 anos e grupo de exposição tardia- primeiro uso com 16 anos ou mais. Os custos diretos/indiretos foram estimados com a aplicação do Inventário Sociodemográfico de Utilização e Custos de Serviços. Custos diretos foram: uso de serviços de saúde, medicação e transporte para tratamento. Custos indiretos foram: absenteísmo doença, desemprego e gasto com a compra de álcool e drogas nos últimos 30 dias. Participação social, percepção de suporte familiar, qualidade de vida, perfil sociodemográfico e rastreamento para ansiedade generalizada foram variáveis analisadas para verificar uma possível interferência nos custos. Análise: Para análise descritiva de associação entre variáveis categóricas aplicou-se o teste de Qui-Quadrado ou teste exato de Fisher; o teste t de Student foi usado para se comparar médias de custos entre os dois tratamentos com distribuição normal e o teste não-paramétrico de Mann-Whitney para as demais. Após a análise descritiva dos dados, foi conduzida análise inferencial na qual estudou-se os efeitos das variáveis preditoras sobre as variáveis dependentes Custo direto, Custo indireto e Custo Total por meio dos Modelos Lineares Generalizados. Resultados: O custo médio total mensal do serviço no ano de 2015 foi de R$64.017,54 e o governo federal custeou 62.1% deste custo, enquanto a gestão municipal
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absorveu os demais. A exposição precoce às drogas não atuou como variável preditora dos custos totais dos sujeitos da amostra. Os custos diretos e indiretos não apresentaram variação de acordo com a exposição precoce ou tardia às drogas. Os custos per capita direto, indireto e total médio dos usuários por mês no ano de 2015 foram, respectivamente, R$863,80, R$1.718,72 e R$2.349,61. O custo indireto representou 73,1% dos custos totais do transtorno para a sociedade. A cada ano mais tarde que se dá a primeira experimentação da(s) droga(s) observa-se um aumento de 1,5% no custo direto dos sujeitos com uso moderado ou grave de drogas na idade adulta. Os dependentes de maconha, cocaína ou crack que também eram abusadores de álcool apresentaram custo direto 2 vezes maior que os dependentes do álcool e 4,4 vezes maior que não usuários de álcool. Sujeitos expostos precocemente as drogas desenvolveram maior gravidade do uso de maconha na idade adulta. Quanto mais grave é o uso da cocaína/crack, maior é o custo indireto do usuário da(s) substância(s) para a sociedade. Quanto mais jovens eram os usuários, maiores eram seus custos indiretos. Além disso, a presença de sintomas de ansiedade generalizada também se mostrou preditora dos custos indiretos. O custo indireto para a sociedade de cada ponto a mais no escore final do ASSIST-Cocaína foi de R$ 18,90 em 2015. Abusadores de cocaína/crack apresentaram custos totais 53% maiores do que usuários que não fazem uso da cocaína/crack. Conclusão: Quanto ao custo total do CAPS-ad, os resultados poderão dar suporte para um melhor planejamento e gestão de ambos governos federal e municipal e apontam para a necessidade de agências governamentais e comunidade acadêmica nacional darem enfoque maior na discussão sobre políticas de saúde mental não apenas interessadas na expansão da rede de cuidados, mas também na melhor alocação de recursos em termos de custos e desfechos. Adolescentes com idade de 10 a 15 anos podem ser a população alvo de políticas públicas de prevenção à dependência química e demais transtornos mentais no país, especialmente quanto ao uso de maconha. Ações e políticas públicas que eduquem a população quanto ao risco do uso problemático de álcool, maconha e cocaína/crack, que promovam o diagnóstico precoce de transtornos de ansiedade e que auxiliem no desenvolvimento de redes de suporte ao tratamento dos usuários destas drogas podem diminuir o impacto econômico do uso problemático de drogas no Brasil.