A leishmaniose visceral (LV) é uma zoonose causada pelo protozoário Leishmania infantum
transmitido nas Américas principalmente pelo vetor Lutzomyia longipalpis. No Brasil, o Estado da
Bahia é um dos mais prevalentes no registro de casos humanos de infecção e óbitos por LV. O objetivo
deste estudo foi a análise espaço/temporal da distribuição da LV humana no Estado da Bahia no
período de 2007 a 2017 e sua possível relação com determinantes socioeconômicos e ambientais. O
estudo analisa também fatores socioeconômicos, ambientais e culturais potencialmente envolvidos nos
casos de LV (óbitos e evolução para cura) de crianças de zero a nove anos de idade em sete municípios
da Bahia que apresentaram dois ou mais óbitos por LV nessa faixa etário no período de 2012 a 2017.
Análise univariada descritiva de casos e óbitos por LV de 2007 a 2017 e espacialização da incidência e
mortalidade por LV e análises de correlação e associação entre IDH, IPESE, TU, seca e coeficiente de
Gini, e casos e óbitos por LV além de, entre sexo, idade, etnia, escolaridade e intervalo
sintomas/tratamento entre casos de cura e óbito. Nos municípios pré-selecionados analisou-se a
situação atual do foco e percepção da população quanto ao agravo. No Estado, durante o período
estudado pode-se observar, após ajuste do modelo de regressão logística, que quanto maior a idade
(pvalor 0,000* 5%S/95%IC) e maior a desigualdade de renda (pvalor 0,000* 5%S/95%IC) maior a
chance para ocorrência de óbito por LV. Nos municípios selecionados, os resultados sorológicos para
LV em humanos, cães na residência e cães na vizinhança nas áreas com óbito foram 1,9% (1/52),
26,6% (4/15) e 18,7% (53/282), respectivamente, e o vetor L. longipalpis foi encontrado em 71,4% das
residências, sendo que a sorologia nas áreas de cura registrou zero, 15,62% (5/32) e 10,19% (16/157)
respectivamente, e L. longipalpis foi encontrado em 70% das residências. Os resultados demonstram
que as estratégias de prevenção e controle da LV adotadas nas últimas décadas não contribuem para a
redução da incidência de casos e óbitos, tão pouco para o controle vetorial, como foi demonstrado pela
persistência da atividade de antigos focos. Tanto o acesso ao serviço médico quanto o diagnóstico
precoce da LV, especialmente em crianças, precisam ser revistos e otimizados, para diminuir o tempo
entre o início dos sintomas e o diagnóstico e tratamento corretos. Além disso, determinantes
socioeconômicos como a distribuição de renda revelam que a LV não é apenas uma doença
negligenciada pela falta de investimento na descoberta de novos medicamentos e vacina, mas, também
uma doença de parcelas negligenciadas da população.