A interlocução entre a Psicologia e a Biologia ressalta a importância da interligação entre as
sensações, as emoções, os sentimentos e o ambiente, como constituintes da Regulação Emocional,
a partir do modelo Bottom-up. Esse modelo constitui um paradigma que compreende o corpo
físico como componente do self e como uma base sólida para a mente. Outro aspecto relevante
está em considerarmos esse corpo afetivo como também produtor de subjetividade em diversos
contextos. A perspectiva defendida nesse trabalho, portanto, se difere do modelo Bottom-up da
Psicologia Cognitiva, que considera a cognição como principal habilidade para a regulação
emocional, excluindo ou desvalorizando as sensações e as emoções, e consequentemente, prioriza
o agenciamento e o controle do corpo, em que as sensações e as emoções são um subproduto da
atividade mental. O modelo cognitivo, modelo Top-down, está baseado no aspecto cultural
ocidental moderno, no qual prevalece a realização de metas, de controle emocional e de sucesso.
(Damásio, 2011; Levine, 2012; Gendlin, 1992, 2006; Porges, 2012; Siegel, 2018). Destacar o
potencial das sensações, das emoções como componentes do Self e do corpo, como base para
mente, além da cognição, para o desenvolvimento da Regulação Emocional, é o nosso objetivo de
investigação, a partir de uma metodologia qualitativa, que embasa a construção de um método
psicoeducativo. Uma proposta de focalização em grupo é desenvolvida com universitários da
UERJ, que se encontram em um momento de insegurança, marcada pela instabilidade política e
econômica do Estado. O método psicoeducativo utilizado visa à expressão de si, na relação, a
partir de três perguntas: o que, onde e como você sente. Participam deste estudo, 25 estudantes de
vários cursos da UERJ, com idades entre 20 e 59 anos, sendo dezoito mulheres e sete rapazes. Os
participantes, divididos em três grupos - grupo piloto (GP) com sete membros, grupo 1 (G1) com
oito membros e o grupo 2 (G2) com dez integrantes - são identificados(as) por um número de 001
a 025. Os grupos tiveram duração média de 1h e 20 minutos, gravados em áudio e vídeo, sendo
transcritos e submetidos à Análise de Conteúdo, segundo Bardin (2008). Obtivemos uma
expressão significativa das sensações, das emoções, dos sentimentos e da produção de significado
em todas as etapas do processo, caracterizando uma construção que se originou no sensorial e
fluiu para a palavra. Nesse sentido, o método utilizado, proporcionou a Regulação Emocional “de
baixo para cima” ou modelo Bottom-up, se diferenciando do modelo “de cima para baixo” ou
Top-down, característico da Psicologia Cognitiva. Desse modo, possibilitou uma nova perspectiva
de compreensão da experiencia sentida. Diante disto, a habilidade de se observar na relação com o
acontecimento, permite a não fixação em uma experiência sensorial, emocional e cria um fluxo de
energia e informação entre o Self, a mente e o ambiente (Levine, 2012; Siegel, 2018). Com isso, a
psicoeducação é caracterizada como um processo dividido em etapas, corporais e de significado,
no qual todas estão integradas e implicadas. Consequentemente, a partir das sensações e das
emoções, observamos que o foco nas sensações corporais direciona para uma nova compreensão
da experiência emocional, levando à integração entre as sensações, as emoções e os sentimentos o
que possibilita novas respostas e novas produções de sentidos.