As micotoxinas são metabólitos secundários produzidos por fungos que ocorrem naturalmente em alimentos, das quais podem causar uma grande variedade de efeitos tóxicos em vertebrados, incluindo humanos. Os objetivos deste trabalho foram avaliar a co-ocorrência de 11 micotoxinas em alimentos, rações para frangos de corte, poedeiras e
gado leiteiro, avaliar a exposição humana a micotoxinas através de análise de alimentos versus dados de consumo e biomarcadores de múltiplas micotoxinas na urina, e caracterizar o risco associado de exposição a micotoxinas em áreas rurais brasileiras. Os procedimentos de amostragem foram conduzidos em 38 propriedades leiteiras e avícolas
de pequeno porte nos arredores de Pirassununga e Descalvado (SP), Pinhalzinho e Erval Velho (SC). Nestas fazendas, um total de 86 voluntários foram recrutados e instruídos a fornecer amostras da primeira urina da manhã (N = 162) em dois períodos de amostragem (abril-maio/2016 e dezembro/2016), juntamente com amostras de arroz (N = 66) , feijão (N = 59), trigo (N = 39), farinha de milho (N = 21) e fubá (N = 18) disponíveis em suas residências. Amostras de ração para frangos de corte (N = 10), poedeiras (N = 20) e bovinos leiteiros (N = 15) também foram coletadas. Todas as amostras foram analisadas por cromatografia líquida de ultra-performance acoplada a espectrometria de massas (UPLC-MS/MS) para determinação de aflatoxinas (AF) B1, B2, G1 e G2, fumonisinas (FB) B1 e B2, ocratoxina A (OTA), zearalenona (ZEN), desoxinivalenol (DON), toxina T-2 e toxina HT-2 em produtos alimentícios e rações, e AFM1, AFP1, AFQ1, FB1, OTA, T-2, HT-2, DON, de-epóxido-oxinivalenol (DOM-1), ZEN, α-zearalenol (α-ZEL), β-zearalenol (β-ZEL) e 15-acetil-DON em amostras de urina. Os níveis de micotoxinas na urina foram ajustados à concentração de creatinina em cada amostra analisada. Em amostras de ração, os níveis médios de AF total, FB total, ZEN e DON foram de 100 μg/kg, 680 μg/kg, 160 μg/kg e 200 μg/kg, respectivamente. A co-ocorrência de duas ou mais micotoxinas foi confirmada em 51% das amostras de ração. Os resultados indicam uma alta exposição de animais de fazenda à micotoxinas na ração, enfatizando a necessidade de melhorar a qualidade das rações em fazendas de pequena escala no Brasil, referente as micotoxinas, e a necessidade de incluir ração na legislação brasileira, especialmente para AF, FB e ZEN. Os níveis de micotoxinas acima dos níveis máximos permitidos no Brasil (LMP) foram encontrados em arroz (1,5%), farinha de trigo (12,8%) e farinha de milho (14,3%). As determinações da urina revelaram a presença de AFM1 e AFP1, DON, OTA, FB1 e ZEN nos níveis de 0,02-12,0 ng/mg de creatinina. Em relação à ingestão provável diária (IPD) com base em dados de alimentos, apenas ZEN (0,156 μg/kg p.c./dia) apresentou um Quociente de Risco (HQ) acima do tolerável (> 1). Os valores de IPD baseados nos níveis urinários para DON, OTA e AF total foram 84,914, 0,031 e 0,001 μg/kg p.c./dia, respectivamente, resultando em valores de HQ> 1, o que pode indicar riscos para a saúde da população estudada. Uma intervenção informal por meio de atividades educacionais e entrega de um folheto informativo durante o primeiro período de amostragem não alterou os níveis de exposição às micotoxinas no segundo período de amostragem. Mais estudos são necessários para identificar itens alimentares além dos analisados neste trabalho como fontes de micotoxinas diárias, bem como a contribuição da inalação de pós contaminados para a exposição. Este é o primeiro estudo
a relatar a avaliação de risco de micotoxinas com base em alimentos e níveis urinários em áreas rurais no Brasil.