Criptococose é a segunda doença fúngica invasiva mais prevalente em pacientes submetidos a transplante de órgãos. O Brasil apresenta uma substancial diversidade genotípica dos complexos de espécies Cryptococcus neoformans e Cryptococcus gattii. O desfecho clínico da criptococose, a evolução do enxerto após o tratamento e o impacto clínico dos diferentes genótipos dessa levedura nos pacientes submetidos a transplante renal foram pobremente estudados, especialmente nos países emergentes. Artigo 1: O objetivo desse estudo foi avaliar a disfunção do enxerto e seu impacto nos pacientes submetidos a transplante renal com criptococose que receberam terapia antifúngica. Foram coletados os dados de 47 pacientes transplantados de uma única instituição, durante o período de 13 anos. A disfunção do enxerto e mortalidade foram analisados, assim como foram estimados os fatores de risco para mortalidade e perda do enxerto. Trinta e oito (97,4%) pacientes tratados com anfotericina B desoxicolato evoluíram com disfunção do enxerto e oito (18,2%) apresentaram perda do enxerto renal. A perda o enxerto com 30 dias após a criptococose foi significantemente associado à doença disseminada, creatinina basal alta e disfunção do enxerto em pacientes tratados com anfotericina B desoxicolato e que apresentavam uma condição adicional de injúria renal. A taxa de mortalidade em 30 dias foi de 19,2% e significantemente associada à doença disseminada, comprometimento pulmonar, sonolência na admissão, pressão de abertura liquórica alta, tinta da China positiva no líquor, creatinina admissional maior que 2,0 mg/dL, disfunção do enxerto em pacientes tratados com anfotericina B desoxicolato associada a uma condição adicional de injúria renal e perda do enxerto em 30 dias. A taxa de perda do enxerto foi alta, principalmente nos
pacientes com condições adicionais de injúria renal. Portanto, nossos dados colaboram na recomendação de evitar anfotericina B desoxicolato nessa população, particularmente nos pacientes com disfunção renal na admissão ou expostos a outra condição de injúria renal. Artigo 2: O objetivo desse estudo foi caracterizar os genótipos dos complexos de espécies C. neoformans/C. gattii e analisar os fatores associados ao desfecho clínico da criptococose em pacientes submetidos a transplante renal no Brasil. Foi analisada a diversidade genética e o padrão de susceptibilidade para o fluconazol de 82 isolados de C. neoformans e C. gattii de 60 transplantados renais. As características clínicas dos pacientes e os fatores prognósticos foram determinados. Setenta e dois isolados (87,8%) foram identificados como C. neoformans e 10 (12,2%) como C. gattii. O VNI foi o genótipo mais frequente (40 casos; 66,7%), seguido do VNII (9 casos; 15%), VGII (6 casos; 10%), VNB (4 casos; 6,7%) e VNI/II (1 caso; 1,7%). Os isolados apresentaram uma alta diversidade genética na rede haplotípica e seis novos “sequence types” foram encontrados. Pacientes infectados por isolados não identificados como tipo molecular VNI apresentaram significantemente mais comprometimento cutâneo que os infectados por VNI (P = 0,012). Isolados do genótipo VGII exibiram alta concentração inibitória mínima para fluconazol quando comparado com os isolados de C. neoformans (P = 0,008). A taxa de mortalidade em 30 dias foi de 28,3% e foi significantemente associada à fungemia e ausência de cefaleia. Além disso, pacientes infectados pelo genótipo VGII apresentaram uma alta taxa de mortalidade em 90 dias (66,7%). Uma grande variedade de genótipos infecta pacientes transplantados no Brasil, ressaltando os genótipos VGII e VNB. A criptococose em pacientes submetidos a transplante renal foi associada à alta mortalidade no Brasil. Nós reportamos o impacto das particularidades clínicas, dos diferentes genótipos e
do perfil de susceptibilidade para o fluconazol dos isolados sobre o desfecho de pacientes com alto risco de criptococose.