Inúmeros agentes virais ainda permanecem sem tratamento eficiente ou vacinas,
causando sérios problemas de saúde-pública. Alguns destes são os arbovírus, microrganismos
emergentes zoonóticos que têm artrópodes como vetores e que, de forma crescente, causam
danos à saúde humana, em alguns casos resultando em óbito. Sendo assim, a pesquisa e
desenvolvimento de novas moléculas com atividade antiviral frente aos arbovírus permanece
relevante. Dentre os agentes de interesse na busca por alternativas terapêuticas encontram-se os
metabólitos vegetais, considerando a gama de moléculas disponíveis e relatadas na literatura
com potencial ação contra diversos patógenos, incluindo os vírus. Dessa forma, o presente
estudo, avaliou a possível atividade antiviral in vitro, de duas frações de saponinas purificadas,
Quil-A® e Fração B, frente aos vírus Zika (ZIKV) e Mayaro (MAYV). Inicialmente foi
estabelecida a citotoxicidade de diferentes concentrações de ambos derivados vegetais, em
células da linhagem Vero. As concentrações de Quil-A® que reduziram em 50% a viabilidade
celular (CC50) foram 18,11 μg/ml, 13,24 μg/ml e 15,56 μg/ml, em exposições por 24 horas, 48
horas e 72 horas, respectivamente. No que tange à Fração B os valores de CC50 encontrados
foram de 26,67 μg/ml, 12,04 μg/ml e 18,49 μg/ml, para 24 horas, 48 horas e 72 horas,
respectivamente. A avaliação do potencial antiviral frente ao ZIKV, tanto por redução do
número de placas de lise, quanto por inibição do efeito citopático (ECP) não demonstraram
ação anti-ZIKV de ambas as frações testadas. Em contrapartida os ensaios por redução do
número de placas de lise evidenciaram efetiva ação anti-MAYV nas concentrações de 6 μg/ml
(com redução de 100% nos tratamentos com Quil-A® e Fração B), 5 μg/ml (com redução de
95,03% e 97,28% nos tratamentos com Quil-A® e Fração B, respectivamente) e 4 μg/ml (com
redução de 95,03% e 63,97% nos tratamentos com Quil-A® e Fração B, respectivamente). O
ensaio de inibição do ECP também evidenciou efetiva ação anti-MAYV de ambas frações. Nas
concentrações de 6 μg/ml, 5 μg/ml e 4 μg/ml, Quil-A® reduziu em 99,84%, 99,44% e 95,51%
o título viral, respectivamente. No que tange à Fração B, esta reduziu 98,91%, 92,28% e 90,00%
a replicação do MAYV em 6 μg/ml, 5 μg/ml e 4 μg/ml, respectivamente. Na maior
concentração utilizada (6 μg/ml), Quil-A® e Fração B reduziram 3 logs e 2 logs do título viral,
respectivamente. Adicionalmente, os derivados vegetais não demonstraram ação virucida
direta, nem atividade quando incubados previamente com as células hospedeiras ou quando
adicionados simultaneamente ao inóculo viral sobre as células. Por conseguinte, experimentos
avaliando a interferência das frações em diferentes tempos pós infecção (p.i.) viral (2 h, 4 h e 6
h) mostram que a atividade anti-MAYV está relacionada à interferência sob a replicação do
material genômico viral e/ou etapas posteriores. Por fim, Quil-A® a Fração B demonstraram
maiores percentuais de inibição da replicação viral quando mantidas por no mínimo 6 horas p.i.