Carnívoros silvestres sofrem com diversos tipos de pressão antropogênica incluindo a caça ilegal e por retaliação, a perda e a fragmentação de habitat, o aumento da malha viária e do índice de atropelamentos, a competição, as doenças, o tráfico ilegal e o uso de pesticidas. O objetivo deste estudo foi caracterizar canídeos e felídeos recepcionados em centros de triagem e reabilitação de animais silvestres e outras instituições de diferentes localidades do Brasil entre os anos de 2012 e 2016. Foi realizado estudo epidemiológico observacional transversal descritivo, a partir da entrada de carnívoros onde foram analisadas as variáveis demográficas, a condição corporal, os sinais clínicos, o motivo de recebimento e a destinação dos animais. No total foram recebidos 164 indivíduos, sendo as espécies Cerdocyon thous e Chrysocyon brachyurus as mais frequentes com 43,04% e 41,77%, dentro da família Canidae e a onça-parda Puma concolor com 42,35%, dentro da família Felidae. Leopardus pardalis, Leopardus gutullus e indivíduos do gênero Lycalopex sp. foram as espécies menos frequentes, com 24,71%, 17,65% e 15,19%, respectivamente. Não houve registros de outras espécies de carnívoros. Entre as cinco possibilidades de recebimento, o atropelamento 69/164 (42,07%) foi o motivo mais frequente observado, seguido da captura/recolhimento 68/164 (41,46%). Verificou-se diferença significativa entre as famílias Canidae e Felidae quanto ao motivo de recebimento (P = 0,003), à condição corporal (P = 0,027), a evolução para óbito ou recuperação (P < 0,001) e o destino final (P < 0,001). Nos indivíduos atropelados, destacaram-se as fraturas de ossos longos (57,57%), as lesões de continuidade tegumentar (48,48%), as anemias de origem traumática, as fraturas de ossos do crânio e os parasitos do sistema gastrointestinal (33,33%). Nos indivíduos capturados/recolhidos, destacaram-se os ectoparasitos (60%), o complexo caquexia-anorexia, o edema pulmonar e a linfadenomegalia (40%). A avaliação parasitológica de 24,39% dos animais, evidenciou diversidade da helmintofauna e a presença de helmintos com potencial zoonótico, como a ancilostomíase, a esparganose e a sarna sarcóptica. A baixa taxa de recuperação de indivíduos expôs o elevado grau de comprometimento da função biológica de carnívoros subtraídos de natureza. Canídeos apresentaram maior vulnerabilidade ao atropelamento e parasitos. A análise epidemiológica e sanitária de animais recepcionados em instituições público-privadas não deve ser subestimada e deve ser executada sempre que possível, pois nela reside um grande potencial para a identificação de agentes de caráter zoonótico e/ou potencialmente patogênicas para as populações de vida-livre, pessoas e animais domésticos, uma vez que animais provenientes de áreas com maior grau de perturbação ambiental também estão sob maior pressão ambiental e, portanto, mais sucetíveis a apresentarem sinais clínicos de doenças ainda pouco conhecidas e investigadas.