Os processos de maturação e desenvolvimento embrionário dos polvos são diretamente influenciados por fatores ambientais como a temperatura, a qual interfere na síntese de vitelo das fêmeas e modula os processos fisiológicos e metabólicos dos embriões. Alterações térmicas refletem proporcionalmente no sucesso do recrutamento de juvenis em ambiente natural, e na viabilidade das paralarvas em ambiente de cultivo. Temperaturas além dos limites térmicos provocam o estresse oxidativo, com a formação de espécies reativas de oxigênio, causando danos aos tecidos. Com base no modelo de tolerância térmica limitada pela capacidade de oxigênio, e utilizando padrões fisiológicos como: I) bioindicadores do sistema de defesa antioxidante e enzimas lipídicas; II) indicadores metabólicos; III) taxas de crescimento morfométrico; este estudo teve por objetivo avaliar o efeito da temperatura no desenvolvimento embrionário do polvo Octopus vulgaris Tipo II. Para isso, os embriões foram submetidos a dois tratamentos de temperatura: I) 18 °C constante; II) temperatura rampa, variando de 18 a 24 °C com incremento de 1 °C a cada 5 dias. De acordo com o comportamento termorregulador e a plasticidade metabólica apresentada pelos embriões, sugerimos que 18 °C seja o intervalo térmico em que os embriões experimentaram uma temperatura pejus (pejus em latim significa “piorando”, “prejuízo”). Os embriões expostos à temperatura 18 °C constante não conseguiram compensar o estresse térmico, que desencadeou num processo de resistência, com o funcionamento do sistema de defesa antioxidante até atingir condições térmicas críticas, quando o metabolismo aeróbio foi deprimido. Como consequência, os embriões mantidos neste tratamento apresentaram crescimento lento, irregular e subdesenvolvimento, com baixa taxa de eclosão e paralarvas morfometricamente deformes. No tratamento rampa até a temperatura de 22 °C, o crescimento dos embriões foi favorecido e o estresse térmico compensado, apresentando redução dos níveis de proteínas oxidadas. A partir da temperatura de 23 °C, o fornecimento de ATP foi reduzido e as defesas antioxidante aumentada, atingindo máxima atividade de proteção celular, sugerindo desta forma que 23 °C seja uma temperatura pejus. Na temperatura de 24 °C, o metabolismo dos embriões aumentou 94%, demonstrando falência do metabolismo aeróbio e inibição do sistema de defesa antioxidante, atingindo condições térmicas críticas na “faixa péssimo”. Neste trabalho, os embriões de ambos os tratamentos alcançaram condições térmicas críticas, seja pelo tempo de exposição à temperatura pejus ou através do aumento gradual da temperatura até atingir a temperatura crítica, respectivamente, 18 e 24 °C. Isso sugere o possível intervalo térmico de desempenho que os embriões de O. vulgaris Tipo II estão adaptados (18-23 °C).