O estado de Minas Gerais é um dos principais produtores de leite do país. Por isso, a caracterização de suas bacias leiteiras quanto ao tipo de microbiota dominante é necessária para orientar a escolha das práticas implantadas em um programa de melhoria da qualidade do leite e de controle da mastite. A água utilizada na propriedade leiteira é um fator que pode interferir na qualidade microbiológica do leite, mas trabalhos relacionando a influência do microbioma da água com a do leite não têm sido descritos. Desta forma, o presente estudo teve como objetivos: avaliar a qualidade e o microbioma de amostras de leite de tanques refrigeradores e de água de propriedades leiteiras; estabelecer associações entre medidas de manejo, microbiota presente e determinar os fatores de risco relacionados à presença e distribuição dos microrganismos e à perda de qualidade do leite. Realizou-se a coleta de 22 amostras de leite e 22 amostras de água de 11 propriedades da região de Sete Lagoas, Minas Gerais em duas etapas, nos meses de maio e de setembro, totalizando 44 amostras. Elas foram enviadas ao laboratório Neoprospecta, Santa Catarina, onde foram realizadas as etapas de enriquecimento do meio, extração do DNA, sequenciamento das regiões hipervariáveis v3-v4 do gene rRNA 16S. Os dados obtidos foram enviados para análise de bioinformática na Universidade de Montreal, Canadá. No processamento de bioinformática foram realizados os testes para alfa diversidade (Chao, Shannon, Simpson) e beta diversidade (teste de Análises de Coordenadas Principais - PCoA). Aplicaram-se também os testes estatísticos AMOVA e Parsinomy. Todos os testes demonstraram diferença estatística entre as comunidades existentes no leite e na água (p<0,001). Porém, quando foram comparadas as amostras, tanto de leite quanto de água, nos dois tempos de coleta, não houve diferença estatística entre as comunidades (p > 0,05). Essas análises demonstram que, nesse caso, a microbiota encontrada na água não influenciou a microbiota encontrada no leite. Além disso, a microbiota tanto do leite quanto da água parece ter a mesma composição (p > 0,05), quando analisada em diferentes tempos de coleta. Além das coletas para análise da metagenoma do gene rRNA 16S, foram coletadas amostras de leite para as análises de composição, contagem de células somáticas (CCS), contagem bacteriana total (CBT), isolamento de patógenos de importância na etiologia da mastite e contagem de microrganismos psicrotróficos. Também foram coletadas amostras de água para a realização de análises microbiológicas (identificação e contagem de coliformes, bactérias heterotróficas e E. coli) e análises físico-químicas (turbidez e dureza). Coletaram-se metadados por meio de um checklist de caracterização das práticas de manejo da propriedade e obtenção do histórico da qualidade do leite, dos últimos dois anos, das propriedades visitadas. Todos esses dados foram descritos e submetidos à análise estatística descritiva. Observou-se que, de acordo com os padrões microbiológicos determinados para a água, 45% das amostras, na primeira coleta, e 64%, na segunda coleta, estavam em desacordo com a legislação brasileira. Pela análise dos dados dos microrganismos isolados e dos valores de CCS e de CBT, utilizando análise multivariada, foi possível observar no gráfico gerado, uma tendência de correlação entre amostras positivas para microrganismos como Klebsiella, Staphylococcus aureus com amostras com CCS elevada (>400.000 cels./mL) e CBT elevada (>5.000 UFC/mL). Esse resultado corrobora com os achados na literatura de que a presença de alguns grupos de bactérias é indicativo de que a glândula mamária está com sua sanidade comprometida.