Imagens do sensor Advanced Synthetic Aperture RADAR (ASAR) foram pré-processadas e aplicadas neste estudo para a detecção de áreas de derretimento superficial de geleiras da Península Antártica, durante os meses de novembro a março, nos períodos 2007/2008 e 2008/2009. Para a detecção dessas áreas, foi aplicado um algoritmo de classificação baseado em três limiares obtidos de estudos prévios: i) limiar de retroespalhamento da zona superficial de neve úmida na Península Antártica (ZSNU < -14 dB); ii) limiar altimétrico da ZSNU nas regiões norte e sul desta península (sul > 800 m e norte > 1200 m); e iii) limiar de imagem sintética, resultante da razão entre imagens sigma linear de verão e sigma linear de inverno (imagem sintética < 0,4). Na geração das imagens sintéticas, foram usadas imagens ASAR de mesma data das imagens da escala decibel, além de uma imagem de referência do inverno austral, como forma de detectar as áreas de derretimento baseado na sua variação sazonal de retroespalhamento. Os dados altimétricos da Península Antártica foram obtidos do Modelo Digital de Elevação do projeto RADARSAT Antarctic Mapping Project (RAMP DEM). Para extrair somente os dados da área continental, foi utilizado o limite da Península Antártica do projeto Antarctic Digital Database (ADD), atualizado por meio das imagens ASAR usadas neste estudo. A análise espacial das imagens ASAR classificadas indicou que a maior extensão e intensidade do derretimento superficial de neve ocorre nas plataformas de gelo George VI, Larsen C e Wilkins. Essas áreas de derretimento superficial estão relacionadas com a ocorrência de temperaturas médias do ar superficial positivas e mais elevadas nessas plataformas de gelo, observadas a partir de dados de estações meteorológicas do British Antarctic Survey. Constatou-se uma relação entre o aumento das áreas de derretimento com o aumento da temperatura do ar superficial, principalmente nos meses de janeiro e fevereiro de 2008. No verão austral de 2008/2009, ocorreram as maiores áreas de derretimento, atingindo 303.378,4 km², que corresponde a 55,7% da área total da Península Antártica. Todos os eventos de derretimento observados nas imagens ASAR classificadas estão provavelmente associados à elevação da temperatura atmosférica. Os resultados obtidos foram coerentes com os de outros estudos, confirmando que o derretimento superficial de geleiras, associado com condições meteorológicas relativamente quentes, é maior em áreas mais extensas, com elevações mais baixas e uniformes na Península Antártica, principalmente nas plataformas de gelo, geralmente expandindo-se durante a progressão do verão austral, da costa para o interiordo continente, das baixas para altas latitudes, e das baixas para as altas elevações.