A dermatite atópica (DA) é uma doença cutânea pruriginosa, inflamatória, crônica associada a
anticorpos IgE alérgeno-específicos principalmente voltados contra alérgenos ambientais. A DA
afeta diversas espécies, incluindo cães e humanos e o prurido é o seu principal sinal clínico. Além
disso, cães atópicos tendem a apresentar quadros recorrentes de piodermites bacterianas,
associadas a alterações no microbioma tegumentar. Em alguns casos, os pacientes apresentam
sinais clínicos típicos de DA, mas anticorpos IgE alérgeno-específicos não podem ser detectados.
Este subtipo de DA é chamado de dermatite atópica-like (ALD). Tanto as alterações no
microbioma em cães atópicos quanto as características da ALD ainda são pouco estudadas em
cães. Sendo assim, objetivou-se avaliar estes dois parâmetros distintos da DA. Para tal, o presente
estudo foi dividido em duas partes. Na primeira parte, realizou-se um estudo retrospectivo dos
prontuários de 269 cães atendidos no hospital veterinário universitário da University of
Minnesota, entre 2007 e 2015. Os pacientes foram divididos em dois grupos (AD e ALD) de
acordo com os resultados dos testes alérgicos. Foram avaliados e comparados entre os grupos
dados epidemiológicos, gravidade da doença de acordo com o grau de prurido, número de áreas
corpóreas afetadas, protocolo de tratamento de manutenção e resposta à terapia. A partir do grau
médio de prurido e do número médio de áreas corpóreas afetadas ao longo das visitas, foi criado
um índice de gravidade da dermatite atópica (CADSI) para se avaliar a intensidade da doença em
cada paciente e comparar entre os grupos ALD e AD. No grupo AD foram incluídos 228 cães
(84,76%) e 41 no grupo ALD (15,24%). Não foram observadas diferenças significativas entre os
grupos nas variáveis epidemiológicas. Em relação à predisposição racial, o Bichon Frisé
apresentou mais risco de desenvolver ALD. Não houve diferença significativa no grau médio de
prurido e número de áreas corpóreas afetadas na primeira visita ou durante o tratamento entre os
grupos, bem como na evolução dessas variáveis ao longo das visitas. Quando o CADSI foi
comparado entre os grupos, não houve diferença. Na segunda parte, foram selecionados
prospectivamente sete cães atópicos com manifestações clínicas sazonais, alocados no Grupo
Atópico (GA) e dez cães saudáveis, alocados no Grupo Controle (GC) e amostras foram coletadas
da região interdigital, axilar, abdominal e lombar utilizando um suabe estéril. No GC, realizou-se
seis coletas intervaladas de quatro semanas. No GA, as amostras foram coletadas quatro semanas
antes do mês típico de crise (Pré-crise), na crise antes de iniciar o tratamento (Crise), durante a
crise com tratamento (Tratamento) e após a estação de crise, já sem tratamento (Pós-crise). Após
as coletas, as amostras foram armazenadas refrigeradas por no máximo sete dias até a extração
do DNA e sequenciamento do gene 16S rRNA. Após o processamento, foi feita a análise
bioinformática e estatística para avaliação taxonômica e cálculo de alpha e beta-diversidade. Os
filos mais abundantes em todas as amostras foram Actinobacteria, Firmicutes, Fusobacteria e
Proteobacteria. Observou-se que a diversidade do microbioma cutâneo de cães atópicos sofre
redução no Pré-crise e o tratamento imunomodulador é capaz de restabelecê-la. Estes resultados
são muito relevantes e promissores pois demonstram as alterações na diversidade do microbioma
antes mesmo do surgimento dos sinais clínicos da doença e o papel restaurador da terapia
imunomoduladora, sem o uso de antimicrobianos.