Esta pesquisa parte do princípio de que o universo funk em Juiz de Fora, numa perspectiva sociocultural, tem contribuição a oferecer ao campo de estudo da educação e da sociedade. Esse universo é observado a partir da sua produção simbólica e dos valores que o constitui como fenômeno cultural predominantemente de jovens da periferia. Destaca-se, também, sua forma de organização sociopolítica, que o insere, de algum modo, nas temáticas travadas na contemporaneidade, dentre as quais se evidenciam as sociações identitárias da juventude. Este estudo se propõe a compreender e a apresentar, num esforço interpretativo das suas práticas cotidianas, o significado das galeras de funk na formação dos arranjos identitários de jovens da periferia da cidade. O trabalho de campo, de viés antropológico, dá-se mediante o uso de recursos como a observação participante, as entrevistas semiestruturadas e uma extensa coleta de dados, opiniões e informações do público-alvo. Procuro descrever, analisar e construir o que chamo de referências interpretativas deste processo e da sistemática de formação destes arranjos identitários entre eles. Para tal propósito percorri, num prolongado trabalho de campo, os diferentes ambientes do universo funk, tendo estabelecido, com seu público, oportunas conversas e leituras sobre as significações e representações que fazem de si e da sua identidade funkeira. Tomei, como referência de investigação, a cena funk da cidade. Tal cena compreende, de modo ampliado, um conjunto de espaços e práticas, dentre os quais destaco: os bailes, as festas e os eventos públicos proporcionadores de encontro e trânsito de galeras, como ruas, praças, quadras e escolas. A este conjunto de referência territorial das galeras, agrega-se, também, uma vasta e sistemática produção audiovisual, com especial ênfase nas composições e imagens do repertório funk, fartamente organizada, distribuida e acessada nas redes sociais. Como resultado deste exercício interpretativo – um esforço intelectual, conforme sugere Geertz (1989) – de investigar, compreender e apresentar, o que apresento neste trabalho é parte efetiva da minha tese de doutorado em Educação pela Universidade Católica de Petrópolis. Concluo que, em tal universo, está presente um processo socioeducativo de forte orientação cultural em que seus membros, mediante intensa estrutura de relações socioafetivas, fazem do funk o elemento central na formação das suas redes de vínculos identitários.