O objetivo com a pesquisa foi analisar o protagonismo das mulheres na
criação das terras do assentamento Ernesto Che Guevara, bem como sua
permanência; instalado no ano de 2005, no município de Sidrolândia/MS em
Mato Grosso do Sul, elas estiveram envolvidas desde a fase do acampamento,
inseridas nos mais variados coletivos na luta pela terra, bem como no coletivo
organizado do MST, atuando na coordenação de encaminhamentos. Naquele
assentamento, pesquisamos a atuação das mulheres que são responsáveis
pela representação jurídicas dos lotes, detendo a titularidade dos mesmos junto
ao INCRA, tendo vivido apenas com os filhos na etapa do acampamento, e,
atualmente, exercendo a gestão dos mesmos, se colocando como
interlocutoras nas decisões políticas. Para o levantamento de dados, dentre as
50 mulheres com a representação da titularidade, partimos das histórias de 08
assentadas, o que representa 16% do total daquelas que ocupam a condição
de responsáveis pelo trabalho e produção de seus lotes. Realizamos
entrevistas e através das experiências e memórias das mulheres, traçamos
suas trajetórias, construídas em diferentes momentos, seja como integrantes
do MST, como acampadas na fase que antecedeu a formação do
assentamento e, posteriormente, como administradoras. Para as análises dos
dados de pesquisa de campo, dialogamos com diversos/as autores/as que
estudam o tema, especialmente com base no conceito de gênero, com os
referenciais apresentados por Joan Scott (1999), numa análise com a
perspectiva relacional. Além disso, utilizamos os estudos de Scherer Warren
(2014) e Gohn (2010) sobre movimentos sociais, bem como os estudos com
mulheres assentadas em MS, apresentadas por Menegat (2009) e Farias
(2010) dentre outros/as. Os resultados da pesquisa comas mulheres do Che
mostraram que elas protagonizaram a luta pela terra, assumiram a condução
de sua representação política, contrariando o modelo vigente até então,
elaborado com prevalência da participação dos homens na linha de frente da
representação jurídica, compatível ao modelo de sociedade patriarcal. Com
isso, percebemos que elas conseguiram construir posições de visibilidade e de
poder decisório, mesmo que este se mostre repleto de dilemas, o que
demonstra que o empoderamento feminino ainda é difícil de ser efetivado, em
virtude da herança patriarcal. No entanto, as mulheres com as quais
dialogamos imprimiram resistências ao processo de dominação e de violência
ao qual estavam submetidas, tornando-se elas próprias novas mulheres.