A icterícia é a coloração amarelada decorrente da deposição de bilirrubina em tecidos ricos em elastina, devido à elevada concentração plasmática. A icterícia ocorre por alterações no metabolismo ou na excreção de bilirrubina, sendo classificadas em pré-hepática, hepática ou pós-hepática. A icterícia pré-hepática ocorre quando há hemólise intra- ou extravascular de causa infecciosa ou imunomediada. A icterícia hepática decorre de lesão hepática extensa. A icterícia pós-hepática pode ser secundária à obstrução parcial ou completa do ducto colédoco por colelitíases ou neoplasias. O objetivo desse estudo foi identificar, avaliar e classificar as causas de icterícia em cães necropsiados entre 2014 e 2017 associando as lesões macroscópicas, histológicas e exames complementares. Foram avaliados macro- e microscopicamente 84 cães com diferentes graus de icterícia, sendo classificados 22 (26,2%) cães com icterícia pré-hepática, 48 (57,1%) cães com icterícia hepática, 13 (15,5%) com icterícia pré-hepática e hepática e um (1,2%) com icterícia pós-hepática. Nos exames hematológicos, a alteração mais frequente foi anemia moderada a acentuada com leucocitose e trombocitopenia. Na bioquímica sanguínea, a maioria dos cães estava com azotemia e alteração nos níveis séricos das enzimas hepáticas, como fosfatase alcalina (FA), aspartato aminotransferase (AST) e alanina aminotransferase (ALT). Foram identificadas várias etiologias associadas à icterícia, dentre elas pode-se destacar, agentes infecciosos (47/84), neoplasias (13/84), processos degenerativos (12/84), crônicos (6/84), processos septicêmicos (5/84) e obstrutivos (1/84). Dentre as causas infecciosas, as mais frequentes foram leptospirose (40/84) e erliquiose (7/84). Das neoplásicas, foram colangiocarcinoma (5/84), hemangiossarcoma (4/84) e (2/84) linfoma. Dos processos degenerativos, os mais frequentes foram degenerações gordurosa (9/84) e glicogênica (3/84). Dos processos crônicos os mais frequentes foram fibrose hepática (cirrose) (6/84) e dos obstrutivos foi diagnosticado somente um caso de colelitíase (1/84). A PCR foi utilizada para o diagnóstico confirmatório da infecção por Leptopira interrogans e Ehrlichia canis. O DNA de Leptospira interrogans foi amplificado em 37 cães, e destes, quatro estavam co-infectados com Ehrlichia canis. A classificação e a identificação das causas de icterícia em cães são de relevância devido a frequência de doenças que apresentam essa alteração, muitas vezes sem diagnóstico ante-mortem.