Morinda citrifolia L. (Rubiaceae) é uma espécie mundialmente conhecida como noni, dotada de diversas propriedades terapêuticas. A partir das sementes dessa planta o nosso grupo de pesquisa isolou uma proteína termoestável, denominada McLTP1 (9,4 kDa), com efeito anti-inflamatório após a administração oral, cujos mecanismos de ação não tinham sido investigados até então. Além dos efeitos terapêuticos, McLTP1 não foi capaz de induzir efeitos tóxicos em camundongos, mesmo após a sua administração repetida (28 dias) em testes de toxicidade realizados segundo a OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico). Diante da necessidade de moléculas com ações farmacológicas promissoras para o tratamento da inflamação, possivelmente direcionadas com especificidade para novos alvos e acarretando menor incidência de efeitos adversos, este trabalho objetivou avaliar o modo de ação de McLTP1 em diferentes modelos de inflamação. Dentro da perspectiva da pesquisa translacional, objetivou-se também desenvolver e testar uma formulação terapêutica líquida a partir de McLTP1, sendo essa uma inovação relevante, considerando o emprego de proteínas vegetais com atividades anti-inflamatórias. Todos os experimentos feitos com animais foram iniciados somente após a aprovação dos protocolos de pesquisa pelo CEUA-UFC (Protocolo de Aprovação nº 65/15). McLTP1 foi isolada a partir das sementes de noni utilizando metodologia previamente descrita e sua pureza foi avaliada por meio de eletroforese em gel de poliacrilamida contendo SDS (SDS-PAGE) 15%. Para o preparo das doses e da formulação terapêutica, McLTP1 foi liofilizada e solubilizada imediatamente antes dos protocolos. O modo de ação de McLTP1 foi avaliado utilizando camundongos albinos Swiss machos (25-30 g) tratados pelas vias oral ou intraperitoneal com a dose de 8 mg/kg da proteína. McLTP1 inibiu significativamente (p<0,05) a migração celular no modelo de peritonite induzida por carragenina, bem como a formação do edema de pata induzido por carragenina e dextrana quando administrada por ambas as vias. Adicionalmente, McLTP1 foi capaz de inibir significativamente a produção das citocinas IL-1β, IL-6 e TNF-�� e promoveu o aumento na produção da citocina anti-inflamatória IL-10 (p<0,05). O tratamento de camundongos com McLTP1 pelas vias oral ou intraperitoneal reduziu a injúria pancreática e as atividades amilásica, lipásica e a injúria pulmonar associada à pancreatite. Tal como observado para drogas que apresentam efeito anti-inflamatório, McLTP1 apresentou efeito antipirético em camundongos, sendo capaz de promover a redução da temperatura corporal dos animais com potência de efeito não diferente significativamente daquela observada para o tratamento com paracetamol (100 mg/kg), utilizado como controle positivo. Dessa forma, é possível concluir que McLTP1 apresenta efeito anti-inflamatório cujo modo de ação envolve a modulação de citocinas pró- e anti-inflamatórias. Tais efeitos foram observados para os tratamentos pelas vias oral e intraperitoneal e, com exceção dos níveis de IL-1β e IL-10, não diferiram significativamente quando essas vias foram comparadas entre si. Considerando os efeitos apresentados por McLTP1, bem como a sua estabilidade em diferentes condições de armazenamento, foi depositada junto ao INPI uma patente de invenção sob o número BR 102016026026-4 de uma formulação terapêutica líquida tendo McLTP1 como princípio ativo. Ao ser administrada em camundongos a formulação apresentou os mesmos efeitos anti-inflamatório e antipirético obtidos para a proteína isolada. Além do entendimento dos efeitos desencadeados por McLTP1 este trabalho reforça o potencial terapêutico das proteínas transferidoras de lipídeos, bem como contribui com a sua utilização futura como princípios ativos de fármacos.