A síndrome de isquemia/reperfusão renal (IRR) representa cerca de 70% das causas de
morbimortalidade relacionadas à lesão renal aguda. Ocorre em diversas doenças, a exemplo da
embolia da artéria renal, além de ser característica em transplantes renais. A IRR durante a agressão
isquêmica leva à necrose tubular aguda e na reoxigenação celular é caracterizada pelo aumento na
peroxidação lipídica, no dano celular e na redução da função de filtração e excreção renal. O
objetivo deste estudo foi analisar o comportamento in vitro das células progenitoras renais de suínos
do córtex renal (CPHCR-su) comparando às células-tronco mesenquimais da medula óssea de
suínos (CTMMO-su), e avaliar seu potencial terapêutico na síndrome de isquemia/reperfusão renal.
Foram utilizados amostras de medula óssea e fragmentos renais de suínos, para isolamento de
CTMMO-su e CPHCR-su. Após estabelecimento da cultura, foram realizados ensaios de cinética
celular, unidade formadora de colônia fibroblastoide (UFC-F), citometria de fluxo, diferenciação
celular em três linhagens e avaliação da morfologia celular. Para avaliação da terapia celular, foram
utilizados 15 suínos machos, sadios, com idade entre 60 a 70 dias, divididos em três grupos de
cinco animais (GC – Controle, G1- tratamento com CTMMO-su e G2 - tratamento com CPHCRsu),
os quais foram submetidos à nefropatia por modelo de isquemia total bilateral durante uma
hora, seguido de reperfusão sanguínea. As CTMMO-su e CPHCR-su, foram marcadas com
nanocristais fluorescentes (Q-tracker®). Nos animais do GC, foi infundido 1mL de solução
fisiológica, via local; nos suínos do G1, a infusão de CTMMO-su (1x106/animal); e no G2,
CPHCR-su (1x106/animal). Os animais foram avaliados por meio de ultrassonografia renal e
urinálise, antes e após infusão celular e realizada análise histopatológica após quatro e oito dias do
tratamento. Os resultados foram submetidos à análise estatística com dados paramétricos em
parcela subdividida e comparação de médias por teste F e dados não paramétricos por teste Kruskal-
Walis a 5% de significância. As CPHCR-su e CTMMO-su apresentaram comportamento
semelhante, aderência ao plástico, morfologia fibroblastoide, positivas ao ensaio de UFC-F,
diferenciação em linhagens condrogênica, adipogênica e osteogênica. Na caracterização
imunofenotípica, as CTMMO-su apresentaram-se CD14-/CD133-/CD105+/CD90+/CD140b+; as
CPHCR-su em segunda passagem (P2), CD14-/CD105-/CD90+/CD140b+/CD133+; e em P4,
CD14-/CD105-/CD90+/CD133-/CD140b-. As análises histopatológicas demonstraram diferenças
estatísticas significativas, para as variáveis de degeneração tubular, necrose/apoptose tubular e
ectasia tubular, com menor média para G2, comparado ao GC e G1, entretanto estes, não diferiram
entre si (p<0,05). Dessa forma, foi comprovado com relativa segurança, que as progenitoras
isoladas do córtex renal suíno são multipotentes, com expressão similar as tronco mesenquimais
medulares. É importante destacar a necessidade de estudos posteriores que determinem a genômica
desta população multipotente, para corroborar ou questionar os resultados ora apresentados. Inferese
que o nicho cortical renal em suínos representa importante fonte de células progenitoras
multipotentes com potencial para ensaios pré-clínicos, conforme demonstrado nos achados
teciduais e laboratoriais desta pesquisa. Portanto, podemos concluir que os animais tratados com
células progenitoras renais apresentaram melhores resultados teciduais, comparados aos dos grupos
controle e tratamento de células-tronco mesenquimais da medula óssea.