Objetivo Avaliar os fatores associados ao óbito neonatal precoce de prematuros de muito baixo peso, nas capitais da região Nordeste, com 24, 48 e 168 horas após o nascimento.
Métodos Coorte prospectiva de base hospitalar de todos os nascidos com idade gestacional de 230/7-316/7 semanas e peso ao nascer de 500-1499g sem malformações, admitidos nas unidades de terapia intensiva de 19 maternidades públicas nas capitais da Região Nordeste, entre julho-dezembro/2007. As características hospitalares, maternas e neonatais, a morbidade neonatal, os procedimentos e intervenções neonatais foram comparados entre os prematuros que morreram ou sobreviveram até 24, 48 e 168 horas de vida. As variáveis perinatais associadas ao óbito até 24 e 48 horas de vida foram determinadas por regressão logística, com os resultados expressos em razão de chance (OR) e intervalo de confiança de 95% (IC95%). As variáveis perinatais associadas ao óbito neonatal precoce foram determinadas pela regressão de Cox, com os resultados expressos por hazard ratio (HR) e IC95%.
Resultados Dos 627 recém-nascidos incluídos no estudo, 179 (29%) morreram antes de 168 horas, dos quais 59 (33%) até 24 horas e 97 (54%) até 48 horas após o nascimento. A regressão logística para óbito até 24 horas mostrou associação com hospital com melhor infraestrutura (OR=0,34; IC95% 0,17-071), peso ao nascer (2,94; 1,32-6,53), Apgar 5ºminuto <7 (7,17; 3,46-14,88) e sexo masculino (2,99; 1,39-6,47). A regressão logística para óbito até 48 horas após o nascimento mostrou associação com hospital com melhor infraestrutura (OR=0,43; IC95% 0,24-0,79), hipertensão materna (0,31; 0,15-0,64), peso ao nascer <1000g (3,94; 2,14-7,27), Apgar 5ºminuto <7 (5,35; 2,97-9,63) e sexo masculino (2,67; 1,48-4,81). A regressão de Cox para óbito neonatal precoce mostrou associação com: ausência do uso do corticoide antenatal (HR=1,59; IC95% 1,11-2,27), gestação múltipla (1,95; 1,28-3,00), sexo masculino (2,01; 1,40-2,86), Apgar 5 minutos <7 (2,93; 2,03-4,21), peso de nascimento <1000g (2,58; 1,70-3,88), idade gestacional <28 semanas (2,07; 1,42-3,02), uso de surfactante (1,65; 1,04-2,59), ausência do uso de escala de dor (1,89; 1,24-2,89).
Conclusão: Houve elevada mortalidade neonatal precoce e esta se associou à imaturidade, extremo baixo peso, baixa vitalidade ao nascer, sexo masculino, gemelaridade e baixa utilização de corticoide antenatal. A reposição de surfactante não exerceu papel protetor para óbito neonatal precoce, comportando-se como marcador de gravidade clínica. A aplicação de escalas de dor pareceu ser um marcador de deficiências na qualidade da assistência neonatal. Os resultados apontam falhas na assistência nas unidades de terapia intensiva neonatal e sala de parto, capacitação irregular de recursos humanos e baixa utilização de corticoide antenatal.