Resumo:
O Consumo de Psicoativos entre Mulheres Brasileiras e Associações com
Comportamentos de Risco: Dados do I e II Levantamento Nacional de Álcool e
Drogas (LENAD).
Luciana T. S. Massaro – Tese de Doutorado – Universidade Federal de São Paulo.
Escola Paulista de Medicina. Programa de Pós-Graduação em Psiquiatria e Psicologia
Médica, 2018.
Introdução: Diversos estudos apontam o aumento do consumo de substâncias
psicoativas lícitas e ilícitas na população feminina, em especial o consumo de álcool
e estimulantes do tipo anfetaminas (ATS). Esta população é particularmente mais
vulnerável, não só aos efeitos fisiológicos do consumo de psicoativos, mas também à
exposição a diversos riscos relacionados ao uso.
Objetivos: O presente estudo abordou este tema explorando o consumo de
substâncias nesta população e os fatores associados ao uso através de três estudos
descritos nas seguintes publicações científicas. Estudo 1: Descreveu o consumo de
ATS em uma amostra representativa da população brasileira e investigou possíveis
diferenças de sexo, associações do consumo com fatores sociodemográficos e uso
de outras substâncias psicoativas. Estudo 2: Descreveu e comparou as prevalências
do consumo de álcool em uma amostra nacionalmente representativa de mulheres
brasileiras entre 2006 e 2012 e analisou associações com sexo desprotegido,
gestação precoce e abortamento. Estudo 3: Apresentou as prevalências de estupro
no Brasil e avaliou associações com o consumo de álcool.
Método: Os estudos foram realizados por meio da análise dos dados advindos de
duas ondas do Levantamento Nacional de Álcool e Drogas (LENAD), realizados em
2006 e 2012 com amostras domiciliares nacionalmente representativas da população
brasileira, sendo 3007 indivíduos em 2006, e 4607 em 2012. O inquérito investigou o
consumo de substâncias psicotrópicas lícitas e ilícitas, os principais fatores de risco
relacionados a saúde física e mental e comportamentos de risco. Os 3 estudos
utilizaram diferentes recortes da amostra original de 7.614 participantes. Estudo 1:
Subamostra do LENAD II com 3.828 participantes com idade entre 15 e 64 anos.
Estudo 2: Subamostra de 4256 mulheres com 14 anos ou mais, sendo 1.719
xviii
respondentes de 2006 e 2.537 de 2012. Estudo 3: Subamostra do LENAD II com
4283 respondentes com 14 anos ou mais, sendo 1918 homens e 2365 mulheres.
Análises multivariadas utilizando diferentes modelos ponderados de regressão foram
usadas para calcular a razão de chances (RC), ajustadas para as associações nos 3
estudos utilizando o pacote estatístico Stata. Os estudos 1 e 2 apresentaram modelos
de equações estruturais, utilizando os pacotes SPSS e o MPlus, respectivamente.
Resultados: Estudo 1: As prevalências do uso de ATS na vida e no último ano na
população geral foram, respectivamente, 4,1% e 1,6%. Indivíduos com maior renda e
usuários de outras substâncias psicoativas apresentam maiores chances de usar
ATS. Maior nível educacional foi identificado como um fator protetor, diminuindo as
chances de consumo. O modelo de equações estruturais mostrou que o uso
concomitante da cocaína anula o fator protetor da educação. Estudo 2: A prevalência
do consumo em binge entre mulheres foi de 35,1% e 47,1% em 2006 e 2012,
respectivamente, sendo o aumento significativo entre as mulheres entre 40-59 anos
de idade. Não houve diferença significativa nas prevalências do transtorno por uso de
álcool. Beber em binge (mesmo sem transtorno do uso de álcool) aumentou a
probabilidade de sexo desprotegido e abortamento. O modelo de equações estruturais
mostrou que gestação precoce é um mediador da relação entre o consumo de álcool
e o abortamento. Estudo 3: A prevalência de estupro na população brasileira com
mais de 14 anos foi estimada em 2,6%, sendo 1,7% entre homens e 3,5 % entre
mulheres. A prevalência foi maior entre a faixa etária que compreende entre 26 e 59
anos, chegando a 3,3%, com chances de ser vítima de estupro significativamente
aumentadas em quase 4 vezes, tanto para homens quanto para mulheres. Entre os
indivíduos com diagnóstico para transtorno por uso de álcool de acordo com o DSM-
5, 6% relataram ser vítimas de estupro, bem como 3,3% daqueles que relataram beber
pesado episódico (binge). Análises de regressão logística e multifatorial indicaram que
tanto para mulheres quanto para homens, a idade (aqueles entre 26 e 59 anos), o
estado civil (solteiro), o diagnóstico de transtorno por uso de álcool e o beber pesado
episódico são fatores associados ao aumento da probabilidade de vitimização por
estupro, enquanto maior nível de educação (mais do que 9 anos de estudo) revelouse
um fator capaz de diminuir as chances de ocorrência na população geral e entre
mulheres.
xix
Conclusões: Os resultados fornecem uma visão abrangente sobre o consumo de
diferentes substâncias psicotrópicas na população brasileira, enfatizando à exposição
a comportamentos de risco relacionados ao uso na população feminina, explorando
como o consumo de substâncias impacta negativamente o bem-estar psicossocial dos
usuários. A implementação de estratégias de prevenção ao consumo de substâncias
e seus desfechos negativos são de fundamental importância, uma vez que podem
amenizar os problemas relacionados a este cenário, promovendo maior qualidade de
vida para a população e diminuindo os gastos pessoais, sociais e de saúde nos
serviços secundário e terciário.
Abstract:
Drug Use Among Brazilian Women and its Associations with Risk Behaviours:
Data from the First and Second Brazilian National Alcohol and Drugs Survey
(BNADS).
Luciana T. S. Massaro – Doctoral Thesis – Universidade Federal de São Paulo.
Postgraduate Program in Psychiatry and Medical Psychology, 2018.
Introduction: Several studies point out that consumption of licit and illicit drugs is on
the rise among Brazilian women, specially alcohol and amphetamine-type stimulants
(ATS). This population is particularly more vulnerable, not only to the physiological
effects of psychoactive substances consumption, but also to the exposure of many
consumption-related risks.
Objectives: This study tackles these issues, exploring the use of substances by this
population and the factors associated with use via three studies described in the
following scientific publications.
Study 1: The study described the consumption of ATS in a national sample of the
Brazilian population and investigated possible differences among gender, and
associations of levels of consumption with sociodemographic factors, and with the use
of other psychoactive substances. Study 2: It described and compared the alcohol
consumption prevalence rates in a nationally representative sample of Brazilian
women between 2006 and 2012, and analysed associations with unprotected sex,
early pregnancy and abortion. Study 3: It presented the prevalence rates of rape in
Brazil and investigated its associations with alcohol consumption.
Method: All three studies were carried out through data analysis of two waves of the
Brazilian National Alcohol and Drugs Survey (BNADS), performed in 2006 and in 2012,
with nationally representative home samples of the Brazilian population, with 3,007
individuals in 2006, and 4,607 in 2012. The work investigated the consumption of licit
and illicit psychotropic substances, as well as the main risk factors related to physical
and mental health and risk behaviours. The three studies used different subsamples
of the original sample of 7,614 individuals. Study 1: Subsample of LENAD II with 3,828
xxi
individuals, aged between 15 and 64 years old. Study 2: Subsample of 4,256 women,
14 years old and older, with 1,719 respondents of 2006, and 2,537 of 2012. Study 3:
Subsample of LENAD II with 4,283 respondents, aged 14 years old and older, with
1,918 men and 2,365 women. Multivariate analyses using different weighted
regression models were chosen to calculate odds (odds ratios- OR), adjusted for the
associations in the three studies using Stata. Studies 1 and 2 presented structural
equation modelling (SEM), using SPSS and MPlus, respectively.
Results: Study 1: The prevalence rates of lifetime and last year ATS use among the
general Brazilian population were 4.1% and 1.6%, respectively. Higher income
individuals and users of other psychoactive substances presented higher chances of
ATS use. Higher level of education was identified as a protecting factor, decreasing
the chances of ATS consumption. The conditional model showed that concomitant
cocaine use cancelled out that protective effect. Study 2: The prevalence rate of binge
drinking among women was 35.1% and 47.1% in 2006 and 2012, respectively, a
significant increase, especially among women aged 40 to 59 years old. There was no
significant difference in the period in terms of the prevalence of alcohol use disorder
among women in Brazil. Binge drinking (without alcohol use disorder) was found to
increase the odds of unprotected sex and abortion. The path analysis showed that
early pregnancy was a mediator of the relationship between alcohol consumption and
abortion. Study 3: The prevalence rate of rape among the Brazilian population older
than 14 years old was estimated as 2.6%, with 1.7% among men and 3.5% among
women. The age group with the highest rate was that of those aged between 26 and
59 years old, reaching 3.3%, with the odds of becoming a rape victim significantly
increased in almost 4 times, among both men and women. Rape victims are more
likely to have alcohol consumption disorder, with this occurrence being 2.6 higher
among women, and 5.2 higher among men. Higher level of education was identified
as a protecting factor, decreasing the chances of rape among the general population,
as well as among women.
Conclusions: The results provide a broad view on the consumption of different
substances among the Brazilian population, focusing on the exposure to the risk
behaviours related to the consumption of psychoactive substances. The work explores
how the consumption of substances has a negative impact on the psychosocial welfare
of individuals. The knowledge of the risks associated with the researched outcomes is
xxii
fundamental to the formulation of prevention strategies. The implementation of such
strategies applied to substance use and violence are of crucial importance, since they
can ease the problems related to this scenario, by promoting quality of life to the
population, and at the same time reducing the costs of the health care system.