A piscicultura cresce rapidamente no Brasil. Em 2016, foram produzidas 507
mil toneladas de peixes e a tilápia do Nilo (Oreochromis niloticus) foi a principal espécie
cultivada, representando 47% da produção total de peixes. O cultivo dessa espécie é
realizado, principalmente, por meio de um sistema intensivo realizado em tanques-rede
instalados em grandes reservatórios nacionais. Entretanto, a presença de doenças desafia
a sustentabilidade da cadeia produtiva, que detém pouco conhecimento sobre os
problemas sanitários existentes. Este trabalho teve como objetivo identificar os principais
riscos sanitários na criação de tilápias em reservatórios e caracterizar a dinâmica dos
patógenos prevalentes, como base para o desenvolvimento de medidas efetivas de
controle sanitário na tilapicultura. Para tanto, de agosto de 2015 a outubro de 2016, foi
realizado um estudo longitudinal no município de Morada Nova de Minas, no reservatório
de Três Marias, sudeste do Brasil. Dados diários e mensais foram coletados em seis das
32 fazendas de peixes existentes, incluindo amostras de peixes, mortalidade, temperatura
e parâmetros de qualidade da água. As principais bactérias detectadas foram
Streptococcus agalactiae, infectando principalmente tilápias adultas ao longo de todo o
ano, com maior frequência à medida que a temperatura da água aumenta, e a Francisella
noatunensis subsp. orientalis (Fno), infectando principalmente tilápia jovens, somente
durante os meses mais frios. A detecção de Fno em uma fazenda em dois invernos
consecutivos, sem evidência de reintrodução, reforça a necessidade de investigação sobre
a capacidade desse patógeno sobreviver e infectar novos animais causando novos surtos.
Além disso, um modelo de orçamento parcial simples e flexível foi desenvolvido para
avaliar o retorno econômico da vacinação contra S. agalactiae em tilápias do Nilo
cultivadas em tanques-rede. Essa bactéria é considerada um grande obstáculo para a
expansão da aquicultura brasileira devido, principalmente, a alta prevalência e
significativas perdas econômicas. A vacinação é considerada um método eficaz para
prevenir doenças importantes na aquicultura. Foram avaliados três cenários de
mortalidade cumulativa devido a S. agalactiae (5%, 10% e 20%, por ciclo de produção)
em uma fazenda não vacinada. Para cada cenário, calculou-se o retorno líquido
(benefícios - custos) da vacinação, dada uma combinação de valores referentes a eficácia
da vacina e a um possível ganho na conversão alimentar, de forma a modelar a incerteza
sobre o verdadeiro valor de tais parâmetros. Os resultados indicam que a vacinação contra
S. agalactiae é provavelmente lucrativa em cultivos de tilápia, embora em cenários onde
a mortalidade cumulativa é menor que 10%, a lucratividade da vacinação seria mais
dependente de maior eficácia vacinal e/ou melhor conversão alimentar.